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Em junho, o cantor e compositor brasileiro Ivan Lins completa 72 anos de idade. Mais da metade deste percurso é dedicada à melodia. O engenheiro químico que descobriu sua verdadeira vocação nas combinações de acordes, que resultariam na formação da MPB, garante que a música tem um poder transformador: “A música faz milagres. A música cura, salva, une, ela inclui socialmente, a música faz coisas fascinantes. E se ela fosse, dentro de uma política cultural séria, acompanhada de educação que é a base da sobrevivência humana, e a música como prioridade absoluta, o mundo não estaria desse jeito.”

Em 30 de abril, Ivan Lins esteve novamente em Havana levando sua música à celebração do Dia Internacional do Jazz. O evento, organizado pela Unesco e parceiros, contou ainda com outros nomes internacionais como Quincy Jones e Herbie Hancock, que é embaixador da Boa Vontade da agência.

Nesta conversa com a ONU News, Ivan Lins falou um pouco da razão do seu sucesso de quase cinco décadas, analisou o mercado musical atual e disse que é um costureiro da melodia. “É como se eu fosse o Giorgio Armani da hamornia”, comparando sua música a uma modelo que deve ser bem vestida.

Leia a entrevista na íntegra.

ONU: E é a sua primeira vez em Cuba?
Ivan Lins: Não, não, deve ser a vigésima vez ou coisa assim.

ONU: Ivan, qual a análise que você faz da música brasileira hoje. Tem gente que fala que o melhor da música já foi feito como a bossa nova, a Música Popular Brasileira. Qual análise você faz hoje?
IL: Continua assim, quer dizer, tem uma juventude produzindo muito bem. Tem aparecido coisas muito bonitas. Mas a grande dificuldade de você chegar a esta qualidade é que a mídia aberta não toca mais esse tipo de coisa, tanto televisão quanto rádio, etc. Então o grande veículo hoje é a internet. A internet se alguém não falar pra você ir atrás, você não vai saber. Então tem muita gente que eu descubro assim quando alguém diz, esse é outro fulano, outro sicrano, aí eu vou ouvir, e aparecem coisas assim interessantes bonitas, normalmente através destas cantoras novas que estão gravando. É uma outra geração que está aparecendo dentro de uma outra realidade da indústria, sem CDs pra vender, com direito autoral realmente prejudicado pela internet, que não paga nada, paga muito mal. Então eles têm um comportamento diferente, eles não estão infelizes. Quem está infeliz somos nós que pegamos uma fase muito mais favorável, a minha geração, nós estamos muito mais chateados com isso, nos sentimos mais prejudicados e tudo. Mas essa garotada, não. Essa garotada já nasceu com essa situação. Então eles se acostumaram e se viram muito bem. Eles se viram lá, montam suas tribos na internet. Tem aquele pessoal que segue eles. De vez em quando eu vejo um nome que eu nunca ouvi falar botando 5 mil pessoas no Circo Voador ou no outro teatro, três mil ou duas mil pessoas. É tudo seguidor de internet.

ONU: A forma de promover hoje é diferente, né?
IL: É. E ela é toda setorizada. É toda espalhada. São tribos que se distribuem, e você para descobrir, você tem que ficar fuçando, ligando para as pessoas para saber, se não você não conhece…

ONU: E o conselho que você daria então para quem quer entrar no mercado agora com esta nova realidade de promoção e também musical?
IL: Eu acho que é só tentar acompanhar o que a geração deles está fazendo. Tenta fazer. Eu acho que a música… A minha fórmula é essa: é uma melodia mais acessível com muito boa letra e saber vestir bem, adequadamente. Esse seria o truque. E entrar na internet e fazer o que os outros estão fazendo. É o único caminho.

ONU: A diretora-geral da Unesco disse hoje que o jazz une as pessoas, as culturas, ele quebra preconceitos, ele ajuda você a melhorar como pessoa e a melhorar de vida. Você concorda?
IL: Eu concordo totalmente. A música… isso que acho que as pessoas, por exemplo, os governantes e os políticos não se tocam com uma realidade

com o poder que a música tem. A música faz milagres. A música cura, salva, une, ela inclui socialmente, a música faz coisas fascinantes. E se ela fosse, dentro de uma política cultural séria, acompanhada de educação que é a base da sobrevivência humana, educação associada à cultura e a música como prioridade absoluta, talvez uma boa prioridade, o mundo não estaria desse jeito. Agora, como é que você vai lidar com a mentalidade dos políticos? Eles acham que cultura, essas coisas todas, é supérfluo. E com esse nível de educação, principalmente aqui no Hemisfério Sul, excluindo Nova Zelândia, Austrália, a educação é tratada como uma coisa qualquer. Falam muito antes das eleições que vão fazer como forma de governo, de administração, de gestão, mas não fazem, não cumprem o que falam. No Brasil, a educação está ladeira abaixo, apesar de há quatro décadas, prometerem que vão investir na educação.

ONU: Precisamos então de mais música?
IL: Sim, de mais investimento na música. Por exemplo a Unesco, estando por trás, os órgãos desta mesma categoria, se investirem na música internacional, na união dos povos, eu acho que a música pode exercer um papel fundamental. Eu digo sempre o seguinte: tem três coisas que se tirarem do planeta, o planeta acaba, que são água, ar e música.

MONICA GRAYLEY
RADIO ONU
News em Nova Iorque para o The Brasilians Newspaper

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