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O humor brasileiro é muitas vezes a maneira através da qual melhor se entende a psique brasileira. Uma boa piada contada no buteco ou no pé sujo, os bares da esquina do bairro onde os brasileiros se misturam para um chopp no final da tarde, é uma boa maneira para os estrangeiros entenderem o que os brasileiros realmente pensam sobre as questões tanto grandes como pequenas. Uma das piadas mais astutas, embora mordazes, que me lembro ter ouvido de vez em quando durante os anos em que morei no Rio e em São Paulo foi a de que “O Brasil é o país do futuro! E sempre será!” Numa só frase bem perspicaz, essa pepita de humor um tanto autodepreciativo transmite o orgulho dos brasileiros pelo enorme potencial do seu país e, ao mesmo tempo, esvazia essas mesmas aspirações nacionais com uma ducha de água fria.

O problema, é claro, é que os brasileiros têm todos os motivos para duvidar de sua própria capacidade de emergir como um player formidável no cenário mundial. O Brasil tem sido um dos mais voláteis dos mercados emergentes ao longo dos últimos trinta anos, com períodos intercalados de crescimento desenfreado seguidos de recessões econômicas bem profundas. Em alguns aspectos, apenas pelo tamanho do país e a sua produção econômica anual de quase US $2 trilhões, o Brasil já luta como peso pesado, embora ainda tenha mostrado um desempenho inferior em relação ao seu potencial real. E embora muitas das manchetes tendam a se concentrar no papel do Brasil como uma das principais forças na produção agrícola global, ou na promissora indústria de petróleo e petroquímica, acredito que a área em que a comunidade empresarial global deve estar de olho é o setor de tecnologia emergente do país. É uma oportunidade tão grande que pode levantar toda a economia brasileira.

Visto de cima, o atual ecossistema de tecnologia do Brasil possui todos os ingredientes necessários para uma grande decolagem: um conjunto robusto de talentos jovens e altamente qualificados, acesso a capital de risco local e global, e um enorme mercado interno repleto com uma população de mais de 200 milhões de pessoas. O país está gerando uma comunidade de empreendedores experientes e de alta qualidade que são tão – senão mais – sofisticados quanto se encontra em Nova York, Londres ou mesmo no Vale do Silício. E talvez o melhor sinal de todos: muitos empresários brasileiros de sucesso, após vender suas empresas, estão procurando reinvestir seus ganhos no mercado brasileiro local. Esta redistribuição de capital para o mercado brasileiro destaca uma diferença dramática em relação aos ciclos prósperos anteriores na

Foto: shutterstock-franz12

economia brasileira, nos quais as empresas anciavam por trocar seus lucros em dólares para protegê-los no exterior, travando os ganhos antes que a próxima crise econômica ocorresse. Esta nova realidade indica um amadurecimento no clima de investimento institucional, o qual está preparando o cenário para um boom sustentado de tecnologia na economia brasileira.

Como suas contrapartes na Europa e na América do Norte, o início da Covid-19 acelerou a mudança cultural dos brasileiros de classe média para a adoção em grande escala de um estilo de vida digital e on-line. E embora os mesmos obstáculos que têm definido o “Risco Brasil” por décadas – corrupção, burocracia desnecessária, e um arcabouço legal e tributário mui complicado – ainda representem desafios reais para as start-ups de tecnologia, há alguns motivos para ser cautelosamente otimista.

Esse otimismo é o motivo pelo qual os investidores nacionais e internacionais estão olhando para o Brasil como a próxima melhor aposta em tecnologia e inovação. Considere o seguinte: o Softbank do Japão, o principal acionista do Uber, está investindo US $5 bilhões em start-ups latino-americanas, com a maior parte tendo como alvo as start-ups brasileiras. A Magazine Luiza – considerada a mais inovadora do país entre as grandes redes varejistas – está construindo uma plataforma de e-commerce, pagamentos, e atendimento para capacitar pequenos e médios varejistas que têm se arrastado na digitalização de seus negócios; aliás a plataforma da Magazine Luiza por si só certamente dará início a uma nova onda de varejistas tradicionais colocando seus negócios online de maneira muito semelhante à que o Shopify e o Squarepace fizeram nos Estados Unidos. O agrobusiness, fintech, e saúde digital são outras áreas de alto potencial de crescimento no setor de tecnologia brasileiro.

O fato do Brasil ficar atrás de outras grandes economias no que diz respeito a alta tecnologia, junto a um mercado de liquidez local sugere que, desta vez, talvez, pode ser que o apelido do Brasil de ser “o país do futuro” esteja finalmente colidindo com o seu presente.

ARICK WIERSON
Colunista da CNN, produtor de televisão & assessor político
Twitter: @ArickWierson

By ARICK WIERSON

Colunista e analista político de renome internacional para diversas organizações de notícias entre elas a CNN, The Observer, CNBC, e Vice. É produtor de filmes documentários pelos quais foi premiado seis vezes com o Emmy®. Wierson é consultor de comunicação para empresas e candidatos políticos nos Estados Unidos, no Oriente Médio, na África e na América Latina. Atuou como assessor sênior de mídia e comunicação do ex-prefeito da cidade de Nova York Michael Bloomberg e exerceu o cargo de Presidente do NYC Media Group, a maior organização de mídia estatal dos Estados Unidos.

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