“O humor é irmão da poesia, o humor é quem denuncia, eu não tenho possibilidade de consertar nada, mas eu tenho a obrigação de denunciar tudo, o humor é tudo, até engraçado.” – Chico Anysio
Francisco “Chico” Anysio de Oliveira Paula Filho, foi um humorista, ator, radioator, produtor, locutor, roteirista, escritor, dublador, apresentador, compositor e pintor brasileiro, notório por seus inúmeros quadros e programas humorísticos na Rede Globo, emissora onde trabalhou por mais de quarenta anos. Tendo criado mais de duzentos personagens cômicos em 65 anos de carreira, é considerado um dos maiores humoristas brasileiros.
Dirigiu e atuou ao lado de importantes nomes do humor brasileiro no rádio e na televisão, como Paulo Gracindo, Grande Otelo, Costinha, Walter D’Ávila, Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, Ivon Curi, José Vasconcellos e muitos outros. Em 2009 recebeu a mais alta honraria da cultura no Brasil, a Ordem do Mérito Cultural.
Biografia
Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu na cidade cearense de Maranguape em 12 de abril de 1931. Mudouse, aos sete anos, com a mãe e três irmãos – entre eles a atriz Lupe Gigliotti e o cineasta Zelito Viana – para o Rio de Janeiro, morando em uma pensão no bairro carioca do Catete. O pai havia ficado no Ceará. Um incêndio havia destruído toda a frota de sua empresa de ônibus e ele não viajou, tentando refazer a vida na construção de estradas. Tinha o objetivo de se tornar advogado, mas a habilidade natural para o humor e a necessidade de trabalhar o fizeram mudar de rumo. Aos dezessete anos decidiu fazer um teste para locutor e radioator na Rádio Guanabara, saindo-se excepcionalmente bem no teste para locutor, ficando em segundo lugar. O primeiro lugar ficou com outro jovem iniciante, Silvio Santos. Na rádio na qual trabalhava exercia várias funções de radioator a comentarista de futebol. Participou do programa “Papel Carbono” de Renato Murce. Na década de 1950 trabalhou nas rádios Mayrink Veiga, Clube de Pernambuco e Clube do Brasil. Nas chanchadas da década de 1950 Chico passou a escrever diálogos e eventualmente atuava como ator em filmes da Atlântida Cinematográfica. Chegou a entrar em um curso de direito, mas não concluiu a faculdade.
Na TV Rio estreou em 1957 o “Noite de Gala”. Em 1959 estreou o programa “Só Tem Tantã”, lançado por
Joaquim Silvério de Castro Barbosa, mais tarde chamado de “Chico Total”. Além de escrever e interpretar seus próprios textos no rádio, televisão e cinema, sempre com humor fino e inteligente, Chico se aventurou com relativo destaque pelo jornalismo esportivo, teatro, literatura e pintura, além de ter composto e gravado algumas canções.
Chico Anysio foi um dos responsáveis pela intermediação referente ao exílio de Caetano Veloso em Londres. Quando completou dois anos de exílio, Chico enviou uma carta para Veloso, para que este retornas-se ao Brasil. Caetano e Gilberto Gil haviam sido presos em São Paulo, duas semanas depois da decretação do AI-5, o ato que dava poderes absolutos ao Regime Militar. Trazidos ao Rio de carro, os dois passaram por três quartéis, até viajarem para Salvador, onde passaram seis meses sob regime de prisão domiciliar. Em seguida, em meados
de 1969, receberam autorização para sair do Brasil com destino a Londres, de onde só retornariam em 1972.
Desde 1968 esteve ligado à Rede Globo, onde conseguiu o status de estrela num elenco que contava com os artistas mais famosos do Brasil, graças também à relação de mútua admiração e respeito que estabeleceu com o executivo Boni. Após a saída de Boni da Globo em novembro de 1997, Chico paulatinamente perdia espaço na programação da emissora, situação agravada no mesmo ano por um acidente em que fraturou a mandíbula. Anos antes, em entrevista concedida em 1989 para a revista Visão, já demonstrava sua insatisfação com a emissora que, segundo Chico, estava preferindo dar oportunidade aos mais jovens o deixando de lado. Em 2009, aos 77 anos, concede entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, no qual afirma estar conformado com a “geladeira” (condição em que o artista é contratado pela emissora, mas fica sem trabalhar), admitia que sua situação era irreversível e que não sentia mais falta de apresentar programas humorísticos.
Em 2005 fez uma participação no “Sítio do Pica-pau Amarelo”, onde interpretava o Dr. Saraiva e, mais tarde, participou da novela “Sinhá Moça”, na Rede Globo. Em 2009, participou da dublagem brasileira de “Up – Altas Aventuras”, como o protagonista Carl Fredericksen. No elenco também seu filho Nizo Neto.
Um Criador de Tipos
Muitos personagens criados por Chico Anysio tornaram-se populares e seus bordões eram repetidos pelo público. Quem não se lembra do famoso “É mentira Terta?” do Coronel Pantaleão, eterno mentiroso? Ou do enfático “Idiota!” proferido pelo velho Popó? Ou ainda de “Minha vingança será maligna” do Bento Carneiro, o vampiro brasileiro? Sem falar no “É vaptvupt” do próprio Professor Raimundo, que foi repetido à exaustão.
Assim como os bordões, são inúmeros os personagens criados por Chico que permanecem no imaginário popular e são emblemáticos ao dar vida a tipos característicos de nossa cultura. Difícil será esquecer Salomé, a dama de Passo Fundo e suas pretensas intimidades com João Baptista Figueiredo, presidente da República da época da ditadura, com quem sempre conversava pelo telefone. Ou do craque Coalhada, o jogador de futebol perna de pau que vivia contando vantagens. Ou ainda de Bozó, o funcionário da TV Globo que tentava tirar proveito de sua situação, assim como do exagerado locutor de rádio Roberval Taylor e do ator canastrão Alberto Roberto.
Os tipos eram tantos e faziam tanto sucesso que não raro algum personagem, ao contracenar com Chico, também ganhava notoriedade. Pedro Bó foi um deles. Ingênuo por natureza e acreditando em tudo o que o Coronel Pantaleão lhe dizia, logo se transformou em sinônimo de pessoa fácil de ser iludida e virou bordão nacional.
Chico Anysio não foi só humorista, em que pese o sucesso que fez nessa área. Sua capacidade de criação estendeu-se também para a literatura, tendo publicado mais de 20 livros, dos quais vários obtiveram sucesso como “O batizado da vaca”, “O enterro do anão” e “Como segurar seu casamento”. Transitou pelas artes plásticas, chegando a fazer exposições em algumas cidades brasileiras. Pintava paisagens a partir das fotografias de diferentes locais que visitava e declarou em entrevistas que gostaria de ter mais tempo para se dedicar à pintura.
Foi roteirista de televisão e cinema, trabalhou como ator em novelas como “Pé na Jaca” e “Sinhá Moça” e em filmes como “Tieta”, além de “Se eu fosse você 2”, projetos em que sempre pôs à prova seu talento como ator e sua inventividade na composição dos personagens.
Vida Pessoal
Filho de Francisco Anysio de Oliveira Paula, que possuía uma empresa de ônibus, e Haydeé Vianna de Oliveira Paula, que sofria de um problema no coração, o que a levou a ser internada várias vezes até sua morte aos 89 anos.
Casado seis vezes: com as atrizes Nancy Wanderley, Rose Rondel-i, Alcione Mazzeo e Regina Chaves, e depois com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello e com a artista plástica Malda Di Paula, o comediante teve oito filhos, sendo um adotado. É pai do ator Lug de Paula (famoso por interpretar o personagem Seu Boneco na “Escolinha
do Professor Raimundo”), do casamento com a atriz e comediante Nancy Wanderley; do ator, comediante e dublador Nizo Neto (Seu Ptolomeu da “Escolinha”, filho da atriz Rose Rondelli); e do diretor de imagem Rico Rondelli, também filho da atriz e vedete Rose Rondelli; do DJ Cícero Chaves, da união com a ex-frenética Regina Chaves; e do ator/escritor Bruno Mazzeo, do casamento com a ex-modelo e atriz Alcione Mazzeo; e Rodrigo e Vitória com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, e de André Lucas, filho adotivo.
É irmão da falecida atriz Lupe Gigliotti, com quem contracenou em vários trabalhos na televisão; do cineasta Zelito Viana; e do industrial, compositor e ex-produtor de rádio Elano de Paula. Também é tio do ator Marcos Palmeira, da atriz e diretora Cininha de Paula e é tio-avô da atriz Maria Maya, filha de Cininha com o ator e diretor Wolf Maya. Era casado com a empresária Malga Di Paula.
Saúde
Chico gravou um vídeo para o Congresso Brasileiro de Psiquiatria declarando que era depressivo e que, se não tivesse feito tratamento, não teria feito 20% do que fez em sua vida. Há 24 anos fazendo tratamento afirmou que o preconceito contra o doente mental e a psiquiatria era uma “burrice”. Seu filho, Nizo Neto, confessou que o pai sofria de depressão e era hipocondríaco, porém, nunca assumiu este último. Admitiu que o pai pagava um salário para o farmacêutico ir uma vez por semana em sua casa lhe aplicar injeções.
Morte
O humorista foi internado em 2 de dezembro de 2010, quando deu entrada no hospital devido a falta de ar. Detectou-se obstrução da artéria coronariana, sendo submetido à angioplastia. Chico ficou 109 dias internado,
recebendo alta em 21 de março de 2011. Nesse período, permaneceu a maior parte do tempo na UTI.
Em 23 de abril de 2011, Chico Anysio retornou ao programa “Zorra Total” interpretando a personagem Salomé. No quadro, Salomé conversava “de mulher para mulher” com a presidente Dilma Rousseff.
O humorista também se preparava para gravar sua participação em alguns filmes, entre eles “A Hora e a Vez” de Augusto Matraga, dirigido por Vicente Coimbra, “Desde o Princípio”, dirigido por Cesar Nero, “Os sonhos de um Sonhador – A História de Frank Aguiar”, dirigido por Caco Milano, entre outros, porém, em 30 de novembro de 2011, foi internado novamente, devido a uma infecção urinária. Recebeu alta 22 dias depois, em 21 de dezembro, mas já no dia seguinte voltou a ser internado, com hemorragia digestiva. Em fevereiro de 2012 foi diagnosticado com uma infecção pulmonar. Apresentou uma piora nas funções respiratória e renal em 21 de março daquele ano.
Chico Anysio morreu em 23 de março de 2012, aos oitenta anos, no Hospital Samaritano do Rio de Janeiro, por falência múltipla de órgãos. O velório aconteceu no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que foi aberto ao público, onde se reuniram milhares de fãs, amigos e colegas de trabalho como Maurício Sherman, Glória Pires, André Lucas, Orlando Drummond e José Santa Cruz. Seu último pedido foi o de ser cremado; parte de suas cinzas foi enviada para Maranguape, sua cidade natal, e o resto para os estúdios da Globo.
Relação com Futebol
Em 1950, Chico Anysio comentou jogos da Copa do Mundo para a Rádio Guanabara. Em 1990, após a grande popularidade de seu personagem Coalhada, Anysio foi convidado pela Globo para ser um dos comentaristas do Mundial da Itália.
Em 2006, foi colunista convidado do jornal esportivo Lance. Em um de seus artigos, denominado “Cabelos em
pé, galera!”, Chico teceu críticas a alguns jogadores, como Cafu e Ronaldo. No mesmo artigo, ele teceu críticas de cunho racista à Dida, dizendo “Não tenho confiança em goleiro negro. O último foi o Barbosa, de triste memória na Seleção”. Na época, o artigo foi minimizado por Anysio, no qual disse que “Meu pensamento sobre goleiros negros não tem nada a ver com discriminação, porque eu adoro atacantes negros, zagueiros negros, craques negros e meio-campistas; eu não vejo como um branco ou amarelo ou vermelho pode ser melhor do que um preto nos 100 metros, longo ou triplo salto e eventos de longa distância. No basquete, os negros são deuses de verdade, e dominam o futebol americano. Eu só não gosto deles no gol”.
Em 27 de fevereiro de 2009, Anysio voltou a criticar Ronaldo, em artigo denominado “Multa covarde”, após ele ser multado pelo Corinthians por chegar atrasado à concentração, em um hotel de Presidente Prudente. Em 10 de março, Chico disse, em uma postagem chamada “Falta de Ídolos”, que existia um entusiasmo exagerado com o Fenômenol. Torcedor vascaíno, foi homenageado pelo clube com seu nome batizando a sala de imprensa do estádio São Januário.
Fonte: Wikipedia

