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Ame-o ou deixe-o!! Essa é a grande verdade sobre um dos dramaturgos mais fenomenais de todos os tempos, William Shakespeare. Escritor de extrema inteligência, sensibilidade e acidez literária, encantou e ainda encanta o mundo com suas tragédias, seus sonetos, suas comédias e também seus dramas históricos. E como não poderia deixar de ser, a Martin Claret traz uma nova edição de uma das minhas histórias prediletas do bardo inglês: A Tragédia de Hamlet, apresentada no formato capa dura e com um projeto gráfico de cair o queixo de tão bem feito que foi.

Mas de nada adiantaria toda a beleza e luxo da edição se o conteúdo não fosse tão merecedor. Mas Hamlet, por si só, já garante um lugar em qualquer estante no mundo, desde que haja leitores que se aventuram no estilo de dramaturgia que Shakespeare tanto dominou.

O leitor começa sua aventura trágica com apenas uma pergunta: Quem está aí? que tem sua fala dita por Bernardo, um oficial da guarda do Castelo da Dinamarca. É assim que nos deparamos logo depois com uma figura fantasmagórica que parecia ser o antigo Rei da Dinamarca, pai de Hamlet, que mesmo com todas as perguntas e exigência se recusava a falar com quem quer que estivesse de guarda nas noites em que aparecia para assombrar os pobres oficiais e guardas noturnos. Mas a semelhança com o Rei despertou entre os guardas, uma única chance de se resolver o que aquele pobre desgraçado fantasma poderia querer; Hamlet, o filho, teria que vir e ver com seus próprios olhos aquela assombração.

“Por que teus ossos consagrados, postos no caixão, irromperam sua mortalha, por que o sepulcro no qual te vimos mansamente sepultado abriu suas pesadas e marmóreas mandíbulas pra te lançar aqui de novo? O que isso quer dizer, que tu, cadáver morto, de novo em aço equipado, revisites assim os lampejos da lua, fazendo a noite horrível, e a nós, néscios da natureza, tão horrendamente fremis nossa serenidade com pensamentos além da aptidão de nossas almas?.”

E assim foi que Hamlet, após o encontro com o fantasma, descobriu o vil e asqueroso plano que culminou com o assassinato de seu pai e, pior, por um homem e uma mulher que agora regiam como Rei e Rainha da pobre Dinamarca; tio e mãe, traidores da confiança de seu falecido pai e dele próprio. Foi à partir dali que Hamlet começou a arquitetar seu plano de vingança que iria expor de uma vez por todas e sem quaisquer dúvidas, a verdadeira face daqueles regentes.

E assim, Hamlet o fez. Através do belo roteiro de Shakespeare, nós, leitores, nos envolvemos numa trama que demonstra como o ser humano pode ser cruel quando, em muitas vezes, quer ter aquilo que não lhe pertence. Hamlet é a própria personificação do anjo vingador, onde trama para que os culpados respondam por seus crimes. Nesse cenário, vemos que a traição é utilizada de forma livre demonstrando ainda mais a vileza e torpeza do ser humano.

A fragilidade também é bem explorada em Hamlet, pois a loucura e a morte vêm fácil para alguns personagens que já são oprimidos por natureza e também pelas regras da sociedade da época. Regras que nos faz ver como é impressionante e de uma ironia e hipocrisia tamanha, por exemplo, ver um assassino com pudores sociais perante os seus, como se fosse um defensor dos bons costumes, de acordo com as mesmas regras mencionadas, algo ainda hoje de uma atualidade espantosa.

“Ser ou não ser; esse é o dilema: Se é mais nobre na mente padecer as pedradas e flechas da bruta fortuna, ou pegar em armas contra um mar de problemas, e, nesse opor-se, findá-los.”

Shakespeare brinca com a psique humana de uma forma tão espetacular que fica quase impossível parar a leitura da peça, pois a cada ato, a cada cena, seus atores nos presenteiam com o melhor e o pior de espécie humana. Não acredito que alguém possa ter entendido tão bem o homem e a mulher cotidiana, mesmo que sejam nobres, como Shakespeare entendeu. Ele explora todas as emoções possíveis de cada personagem para dar ao leitor ou ao espectador, no caso de uma apresentação de suas peças, a melhor experiência emocional possível.

E para aqueles que acham que sua escrita é difícil, digo que devem se arriscar, principalmente com essa edição de a Tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca e descobrir que todo esse medo é claramente infundado. Apesar de suas obras, as correspondentes claro, terem apresentações no formato de script, em nada atrapalha a leitura e imersão tamanha é a destreza do escritor, pois assim que você conhece o personagem recebe uma carga total para amá-lo ou odiá-lo quase que instantaneamente e, talvez por isso, Shakespeare seja tão aclamado, estudado, apreciado e amado até os dias de hoje e, certamente, nos dias bem futuros também. Absolutamente I-M-P-E-R-D-Í-V-E-L.

Jeffa Koontz
Crítico Literário
https://literalmente-koontz.blogspot.com/
Instagram: @literalmente_koontz

JEFFA KOONTZ

By JEFFA KOONTZ

Aprendiz da vida, leitor compulsivo, cinéfilo, "sériefilo", colecionador, músico, resenhista e crítico literário.

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