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No dia 18 de setembro de 2020 a televisão brasileira completou 70 anos de existência. Uma data para se comemorar muito, uma vez que o Brasil é também um dos países com maior concentração de redes de televisão aberta, que independente de algumas falências durante tal período, continua firme e cada vez mais forte.

Uma dessas baixas se deu em 1980, após trinta anos de atividades, da TV Tupi de São Paulo. Assim como a pioneira Dumont, nos Estados Unidos, nós também perdemos umas de nossas primeiras emissoras. No caso, a TV Tupi foi não apenas a primeira emissora de televi- são aberta no país, como também da América do Sul. Nela começaram muitos pioneiros, naquele 1950, como Vida Alves, Walter Forster, Lima Duarte, Laura Cardoso, Dionísio Azevedo, Lia de Aguiar e muitos outros. Uma história tão rica que é de causar inveja do elenco estelar que a emissora possuiu em seus tempos áureos. Hoje felizmente muitos dos que lá começaram e continuam em atividades, fazem parte das principais redes do país, em especial, da Globo. Atores, autores, produtores, apresentadores e muitos outros.

Jovens que com o apoio de Assis Chateaubriand e de sua empresa, os Diários Associados, alçaram voo naqueles anos 1950. Jovens como uma energia tão grande, tão contagiante, que não ficam atrás dos brasileiros que moram no exterior e que sentem uma vontade enorme de gritar a importância de ser brasileiro. Eles tinham essa vontade naqueles tempos: do rádio para televisão, ou do teatro e do cinema para o novo meio, aqueles jovens queriam usar a televisão como instrumento para fazer não apenas um país, cuja cultura estaria ali divulgada nas produções, como também um alicerce pra transformar um mundo.

Vemos depois de tanto tempo parte desse espírito ainda vivo, mas reascendeu nessa fase de isolamento social e pandemia, quando no Brasil a televisão precisou definitivamente se modificar para continuar: lembrar de que improvisar era necessário, pensando – todas as TVs, no geral – que o conteúdo está a frente da tecnologia (que deve ser sempre uma preocupação, mas estar em um segundo plano para que auxilie

Cena da 1ª novela em cores no Brasil, “O Bem Amado”, Globo 1973.
No sentido horário: Uma das irmãs Cajazeiras, Dulcinéia (Dorinha Duval), Odorico Paraguassú (Paulo Gracindo) e Seu Libório (Arnaldo Weiss)

na comunicação com o espectador) e a criatividade está acima de tudo. O resultado será um bom conteúdo e uma boa audiência. Foi com esse espírito que tudo nasceu, curiosamente, quando Chateaubriand mostrou que o Brasil tinha capacidade de fazer acontecer, pagando o preço necessário, ao adquirir em Nova York, duas emissoras: uma da RCA, para futura TV Tupi de São Paulo, e uma da GE (General Electric), para a TV Tupi do Rio de Janeiro. É sempre importante pensar que todo conteúdo deve nos tocar profundamente, emocionar, informar, fazer bem a alma. Amar o que faz, sempre. Precisamos lembrar que o espírito do brasileiro tem que estar sempre com energia, mesmo nos momentos mais difíceis, com ânimo para vencer desafios independente de onde cada um esteja.

Nessas sete décadas muita coisa mudou. Novelas surgiram, ganharam o mundo, desde a distribuição de “O Bem Amado”(Globo, 1973) para o exterior. Saímos do preto e branco, do ao vivo, do regional…. Fomos parar no nacional, internacional, via satélite, até com imagens para fora do planeta! Quem não se lembra da chegada do homem à Lua em 1969? Fomos depois para o colorido analógico, em 1972, e para vivacidade em alta definição, em 2007.

Nesses setenta anos tivemos momentos memoráveis, jamais esquecidos pelos brasileiros: os teleteatros da TV Tupi, os shows da TV Excelsior, os festivais de música da TV Record, as novelas da TV Globo, o jornalismo da TV Bandeirantes, os programas de auditório do SBT, a modernidade da TV Manchete, os infantis da TV Cultura… Quantas histórias e quantas emissoras que transformaram também os costumes dos brasileiros.

Momentos importantes que mexeram com a nossa cultura, com a nossa história e que muitas vezes faz com que quem mora fora do país, mate as saudades ao ver nossas produções em milhares de quilômetros de distância, como pelo sinal da TV Globo Internacional, que ganhou os lares de todo mundo a partir de 1999. Sem esquecer o calor humano que demonstra a ligação da TV quando a população é conclamada pela Globo para ir às ruas comparecer ao BRDAY NYC! É uma ligação que extravasa no evento e mostra a relação que a televisão tem com o seu público, impulsionada por uma iniciativa tão importante como o Brazilian Day, que poderíamos resumir em duas palavras: brasilidade e identidade!

Tanta coisa mudou. A tecnologia se aperfeiçoou e o que era difícil, nos primeiros anos, como fechar um link para transmitir uma imagem a longas distâncias, demorando horas para achar o ângulo correto, hoje se faz num passe de alguns segundos após apertarmos um botão. Só uma coisa não mudou: a paixão do brasileiro pela televisão, que hoje apoiado em novas plataformas e novas forma de consumo – pelo celular, tablet e computador, mostra que o conteúdo sempre estará em primeiro lugar, independente se dentro ou fora do televisor. Só uma coisa não muda: a essência e o espírito do brasileiro, cujos continuam ligados nas grandes histórias contadas pela televisão… há 70 anos.

ELMO FRANCFORT
Coordenador do Memória ABERT, Escritor e Jornalista.
elmo@francfort.com.br

ELMO FRANCFORT

By ELMO FRANCFORT

Autor de mais de 10 livros sobre a memória da televisão, tendo colaborado com mais de 80 obras e de exposições sobre a área, como também sobre cultura pop. Coordenador do Memória ABERT (memoria.abert.org.br / memoria@abert.org.br), da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, além de dirigir o projeto TV ANO 70, em comemoração às sete décadas da televisão brasileira.

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