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Quinze anos! Este é o tempo que Neyliowan Tomazeli, campeão de Barretos em 1999, está fora das arenas. Determinado e de opinião forte, não é de se duvidar que se estivesse montando até hoje. Estaria, com certeza, dando muito trabalho a esta turma nova de competidores e levando muitos prêmios para casa.

Durante sete anos, tempo que perma-neceu disputando o rodeio, Neyliowan cravou seu nome na história das montarias em touro. Foi um dos poucos competidores que parou de montar após ter vencido tudo aquilo que almejava.

Conheça a história do touro Bandido

Sua brilhante carreira, que não foi só de glorias, começou por diversão em um rodeio no ano de 1997. O garoto que nem traia tinha, montou pela primeira vez, e fez bonito. Ainda levou para casa uma moto ‘zero’ km. A conquista deu a ele fôlego e vontade, muita vontade de continuar. Em 1999, saiu do anonimato após vencer na arena mais famosa do América Latina: Barretos. Foi a primeira vez que montou lá e, assim como no primeiro rodeio, venceu.

Após a conquista do título, viajou para os Estados Unidos. Como era de se esperar, já no primeiro rodeio, também ganhou. Neyliowan só não disputou a final mundial porque não participou de todas as etapas. Contudo, na terra do ‘tio Sam’ ele levou muitos prêmios e dinheiro. Mas como a vida nos Estados Unidos era bem difícil e o frio o ‘cortava ao meio’, resolveu voltar e competir só no Brasil.

Novos rumos

De volta, Neyliowan ‘ia a para cima’ dos touros, mesmo estando machucado. Conta que uma vez, na semifinal de um rodeio, o touro pisou na sua perna. Naquela época, outro competidor não podia montar no lugar. Então, na decisão, os meninos o ajudaram a subir em cima do brete e depois em cima do touro.

Neyliowan nunca teve medo. Nem mesmo depois de ser arremessado para o alto pelo touro Bandido. Foi no Rodeio de Jaguariúna em 2001, etapa que estava sendo bastante badalada na época. Na queda, quebrou a coluna e ficou nove meses parado. Mas a cena rendeu.

Por conta desta montaria, Neyliowan foi convidado a participar da novela América. “O André Dias [da Rede Globo] me ligou, me convidou para participar da novela. Ai pensei ‘porque não?’ Fui de São José do Rio Preto para São Paulo e de lá fui para o Rio de Janeiro”, relembra. No aeroporto, foi recepcionado pelo diretor da TV.

“O André estava me esperando e eu perguntei a ele onde eu ia ficar. Quando eu soube que ia me hospedar em um hotel com elevador disse a ele que estava pegando o avião de volta. Ai o André me levou para casa dele. Fiquei 15 dias no Rio, conheci o Projac, os artistas”.

Neyliowan e Bandido voltaram a se enfrentar no rodeio de Barretos em 2003. Desta vez ele permaneceu 5s2 em cima do animal. “Lembro que amarrei a mão e até brinquei para não apertar muito o sedém. Pedi para abrir a porteira e ele deu um pulo muito difícil e caiu. Deu tempo de pensar ‘será que ele vai me jogar de novo para cima?’ Mas, graças a Deus, o Salva-Vidas me ajudou a sair. Lembro que falei para o dono dele que eu montaria ele de novo na sequência se pudesse”.

Personagem inusitado

No esporte montaria em touros, Neyliowan era autêntico de opinião. Não tinha medo, e não teve, mesmo depois de outro grave acidente em 2004. Estava em um rodeio na cidade de Guararapes/SP, e pressentiu algo estranho no começo. Chegou a cogitar em não montar, mas seguiu. No domingo, estava em primeiro de nota, pegou no sorteio o touro Jogo Bruto, um animal invicto. Nesta montaria, o competidor levou uma chifrada na cabeça, que lhe rendeu um coagulo e 11 dias em coma.

“Cai no chão e fui para a outra vida. Nossa Senhora desceu até mim e disse ‘filho, quem cuida de você agora sou eu, não se desespere’. Depois de 11 dias, a imagem de Jesus apareceu e disse que eu podia voltar. Eu estava lá em cima. Não gosto de falar sobre isso porque é um segredo entre eu e Deus. Eu só falo porque tem muita gente que não crê nele, mas ele existe de verdade”.

Após vinte dias do acidente, Neyliowan já estava na fazenda trabalhando e montando nos touros, naturalmente. Parou de competir em 2004, quando sentiu que era hora. “Minha carreira começou do nada e me levou a tudo. Tudo que eu podia ter ganho no rodeio eu ganhei. Meu único objetivo era vencer. Meu pai ficava alegre quando eu chegava com uma moto em cima da camionete”.

Aposentadoria

Hoje, aos 42 anos, ele compartilha que de vez em quando, quando sente uma ‘peniqueira’ nas pernas por vontade de montar, ele mesma fecha boi na fazenda, aperta a corda, puxa o sedém, abre a porteira e sai. Adivinha? Ele para. O touro não tem chance nenhuma com o talento de Neyliowan.

O ex-competidor, que tinha medo de avião, de elevador e as algumas vezes até de gente, não tinha medo de montar em touro. Transformou isso na melhor coisa que poderia ter feito na vida, sua profissão. Venceu todos importantes rodeios e provou para ele mesmo que era capaz. Ao todo, foram 11 carros, 29 motos, duas camionetes, além da premiação em dinheiro.

CARLA PRADO
Jornalista
carlaecomunicacao@gmail.com

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