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Este artigo é uma dura crítica ao modo com que pais e sogros, na atualidade, são desprezados por seus filhos e agregados. Em especial, os pais de mais idade, que tem necessidades básicas: de atenção e carinho, que lhes tem sido negadas pela insensibilidade e egoísmo de seus filhos, que preferem entreter-se com as novas tecnologias, do que conversar com familiares. Este comportamento transmite aos netos, não a noção, mas a certeza de que bastam algumas poucas visitas, rápidas e ocasionais, alguns telefonemas semanais, um almoço ou jantar de vez em quando, um acompanhamento ao médico necessário, para cumprir o que lhes caberia fazer pela saúde e bem-estar dos mais velhos.

Atenção e carinho estão para a alegria da alma, como o ar que respiramos está para a saúde do corpo.

Nestas últimas décadas surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda a família.

A evasão dos mais jovens em busca de recursos de sobrevivência e de desenvolvimento, sempre ocorreu. Trabalho, estudos, fugas das guerras e perseguições, a seca e a fome brutal, desde que o mundo é mundo pressionou os jovens a abandonarem o lar paterno. Também os jovens fugiram da violência e brutalidade de seus pais ignorantes e de mau gênio. Nada disso, porém, era vivido como abandono: era rompimento nos casos mais drásticos. Era separação vivida como intervalo, breve ou tornado definitivo, caso a vida não lhes concedesse condição futura de reencontro, de reunião.

Separação e responsabilidade

Assim como os pais deixavam e, ainda deixam seus filhos em mãos de outros familiares, ao partirem em busca de melhores condições de vida, de trabalho e estudos, houve filhos que se separaram de seus pais. Em geral, porém, isso não é percebido como abandono emocional. Não há descaso nem esquecimento. Os filhos que partem e partiam, também assumiam responsabilidades pesadas de ampará-los e aos irmãos mais jovens. Gratidão e retorno, em forma de cuidados ainda que à distância. Mesmo quando um filho não está presente na vida de seus pais, sua voz ao telefone, agora enviada pelas modernas tecnologias e, com ela as imagens nas telinhas, carrega a melodia do afeto, da saudade e da genuína preocupação. E os mais velhos nutrem seus corações e curam as feridas de suas almas, por que se sentem amados e podem abençoá-los.

Nos tempos de hoje, porém, dentro de um espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas. Nasceu uma geração de ‘pais órfãos de filhos’. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do país. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dividas em seus honrados nomes, que lhes antecipam herança. Mas que não tem assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão – talvez, não diretamente de seu desinteresse, nem de sua falta de tempo – mas da crença de que seus pais se bastam.

São pais de mais idade que estão vivos, porém esvaziados de um lar pelo que tanto lutaram. Pode-se dizer, infelizmente, que pais idosos, com filhos presentes em suas vidas constituem-se numa crescente raridade. Os filhos se aproximam quando há doença grave a ser tratada. Pagam tratamento e cuidadores e, pela presença de muitos estranhos na vida dos seus pais idosos, pessoas que cumprem com suas funções, enquanto eles, os filhos trabalham, viajam, se divertem e se encerram em seus programas exclusivos de ‘só para adultos’ e ‘só́ para adolescentes’ de um lado, e ‘só para gente da sua idade’ de outro. Pais de mais idade que são visitados por filhos e netos com quem conversam e vez por outra passeiam, parecem se constituir numa minoria crescente.

Tornaram-se eles, os pais, complacentes em relação aos filhos que não têm tempo para nada.

Por Ana Fraiman para o site: www.revistapazes.com

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