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A loba-guará, que passou um ano sendo treinada e cuidada para voltar à natureza, morreu atropelada em janeiro em uma estrada rural no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra. Lobinha, como carinhosamente era chamada pelos pesquisadores, fazia parte de um projeto pioneiro de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e parceiros. O objetivo da pesquisa, uma atividade do Plano de Ação para a Conservação do Lobo-Guará, coordenado pelo Cenap, era criar um protocolo de reabilitação comportamental para soltura de lobos-guarás órfãos, resgatados na natureza, depois de perderem seus pais caçados, nas queimadas, ou atropelados.

“Ficamos devastados com essa tragédia. Hoje digo que está muito difícil de acreditar que um dia os lobos conseguirão sobreviver a todas as ameaças que estão sujeitos. Porém, vamos continuar lutando para melhorar as condições de sobrevivência desta espécie”, afirma o pesquisador do Cenap, Rogério Cunha de Paula.

Fazia quase dois meses que a Lobinha tinha sido solta na Serra da Canastra, e estava sendo monitorada por um colar de GPS. “O colar nos enviou aviso de mortalidade e fomos atrás, torcendo que fosse somente um mau funcionamento. Infelizmente, não foi. Ela sofreu um impacto, provavelmente por uma moto, e faleceu 30 minutos depois”, relata.

A espécie, um dos ícones da biodiversidade do Cerrado, corre risco de extinção, e os atropelamentos são hoje uma das maiores ameaças à sua sobrevivência. “Sempre que se fala em atropelamento, pensamos numa rodovia, e não numa estradinha rural de terra. Quantos outros bichos não estarão morrendo desse mesmo jeito por aí, sem a gente ficar sabendo?”, indaga Rogério. O acidente reacende uma questão importante, a da drástica redução de populações de espécies ameaçadas nas estradas de todo país. O caso da Lobinha alerta que os levantamentos de animais atropelados podem estar muito subestimados.

O projeto, conduzido com extremo rigor técnico, aproveitando dados científicos existentes para reabilitação comportamental e informações coletadas a partir de lobos monitorados na região, foi desenvolvido pelos pesquisadores do ICMBio, do Instituto Pró-Carnívoros e da Universidade de Franca (SP).

História

A loba foi resgatada ainda filhote depois que os pais desapareceram em meio a uma queimada no interior de São Paulo em 2016. Lobinha, foi resgatada com apenas 4 meses de vidae provavelmente não sobreviveria por conta própria nessa idade. Ela seria, como órfãos de lobos resgatados, incorporada ao plantel de alguma instituição mantenedora de animais em cativeiro. Buscando solucionar o problema da redução das populações de lobo pela retirada de filhotes e jovens, os pesquisadores decidiram inovar. Cuidaram do animal para que ele pudesse retornar à natureza. No período de semi-cativeiro (em um cercado de 2.600 m2 em uma área natural), ela recebeu frutos, treinamento para caçar e acompanhamento periódico de sua saúde. Assim, ela foi treinada a sobreviver.

Depois de quase um ano, os pesquisadores abriram o portão do recinto de treinamento, libertando a loba para reencontrar a liberdade e viver em meio a natureza. “Durante esse período, ela atendeu todas as marcas esperadas para ganhar sua liberdade. Seu comportamento de caça era impecável, sua saúde era perfeita”, conta o pesquisador. Infelizmente, depois de todo o esforço realizado de ambos os lados, a pesquisa foi abreviada por um acidente, que encerrou o projeto e as muitas possibilidades que Lobinha traria para a ciência e conservação dos lobos-guarás do Brasil. No entanto, o período em que ela viveu livre, atestou o sucesso do projeto e reacendeu uma grande esperança para os órfãos. Graças ao caminho trilhado por Lobinha em seus 20 meses de vida, todos eles poderão ter suas segundas chances.

Fonte: Comunicação ICMBio

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