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A Estrada Real é a maior rota turística do país. São mais de 1.630 quilômetros de extensão, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje,ela resgata as tradições do percurso valorizando a identidade e as belezas da região. A sua história surge em meados do século 18, quando a Coroa Portuguesa decidiu oficializar os caminhos para o trânsito de ouro e diamantes de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro. As trilhas que foram delegadas pela realeza ganharam o nome de Estrada Real. Histórias e memórias permeiam cada canto da Estrada Real. Os caminhos são ricos não só das histórias que

Foto: shutterstock-Gilberto Mesquita

contam nos livros, mas daquelas que são passadas no boca a boca por gerações. As rotas da ER estão intimamente ligadas à própria história do Brasil e quem percorrê-la terá a chance de levar na bagagem séculos de lutas, conquistas e descobertas que foram fundamentais para o desenvolvimento do país.

Por terem constituído, durante longo tempo, as únicas vias autorizadas de acesso à região das reservas auríferas e diamantíferas da capitania das Minas Gerais, os caminhos reais adquiriram, já a partir da sua abertura, natureza oficial. A circulação de pessoas, mercadorias, ouro e diamante era obrigatoriamente feita por eles, constituindo crime de lesa-majestade a abertura de novos caminhos. O interesse fiscal, base da política metropolitana para a região mineradora da colônia, prevalecia sobre qualquer outro: cumpria, antes de tudo, ter as rotas de comunicação com as minas devidamente controladas e fiscalizadas, para que nelas se pudesse extrair uma massa cada vez maior de tributos para o tesouro real. O nome Estrada Real passou a aludir, assim, àquelas vias que, por sua antiguidade, importância e natureza oficial, eram propriedade da Coroa metropolitana. Durante todo o século XVIII, e também parte do XIX, quando a era mineradora já se fora e os caminhos se tornaram livres e empobrecidos, as estradas reais foram os troncos viários principais do centro-sul do território colonial.

Foto: shutterstock- Fred S. Pinheiro

Ao longo dos caminhos reais espalharam-se os antigos registros, postos fiscais de controle, alguns dos quais ainda podem ser apreciados na atualidade. Eram de diversos tipos: registros do ouro, que fiscalizavam o transporte do metal e cobravam o quinto; registros de entradas, que cobravam pelo tráfego de pessoas, mercadorias e animais; registros da Demarcação Diamantina, responsáveis pelo severo policiamento do contrabando e pela cobrança dos direitos de entrada na zona diamantífera; e contagens, que tributavam o trânsito de animais. Os prédios dos registros eram instalados em locais estratégicos dos caminhos: passagens entre serras, desfiladeiros e margens de cursos de água. No seu interior colocava-se o pessoal empregado: um administrador, um contador, um fiel e dois ou quatro soldados. Um portão com cadeado fechava a estrada.

Foto: shutterstock-falcorafael

As estradas reais foram, ainda, os eixos principais do intenso processo de urbanização do centro-sul brasileiro. Ao longo do seu leito ou em suas margens distribuíram-se as centenas de arraiais, povoados e vilas onde se organizou a massa populacional envolvida com a economia da mineração e com as economias a ela associadas. O povoado à beira do caminho, com o cruzeiro, a capela, o pelourinho, o rancho de tropas, a venda, a oficina e as casas de pau-a-pique simbolizou, durante longo tempo, o processo de nucleação urbana do centro-sul da colônia. Povoados e vilas típicos foram visitados e descritos pelos viajantes europeus do século XIX, que nos deixaram páginas e páginas de notas de viagem sobre as paisagens e os núcleos urbanos que encontraram nas suas jornadas

Foto: shutterstock-VictorAbade

pelos caminhos coloniais brasileiros.

No auge da mineração, esses caminhos foram percorridos por imigrantes paulistas, baianos, pernambucanos e europeus, por tropeiros do sul e de São Paulo, por boiadeiros do rio São Francisco e do rio das Velhas, por sertanistas da Bahia e das vilas paulistas, por escravos negros e índios, por mascates, administradores reais, homens do fisco, soldados mercenários e milícias oficiais.

A expansão originária dos primeiros grandes caminhos do centro-sul do território colonial conformou um dos mais significativos movimentos de apropriação do interior brasileiro e de sua integração com a faixa litorânea. Ampliando a base territorial da América portuguesa, as vias hoje reunidas sob o nome de Estrada Real foram, assim, fundamentais na história do povoamento e da colonização de vastas regiões do território brasileiro, tornando-se verdadeiros eixos históricos-culturais de construção de parte da nossa história.

• Caminho Velho: Com muitas histórias para contar, o Caminho Velho foi a primeira via aberta oficialmente pela Coroa Portuguesa para o tráfego entre o litoral fluminense e a região mineradora.

Foto: shutterstock-Uwe Bergwitz

São localidades de cultura típica de Minas Gerais, um combinado entre as raízes indígenas, africanas e europeias. Essa riqueza é responsável por atrativos como a arquitetura única de Ouro Preto, a gastronomia reconhecida internacionalmente de Tiradentes, as grandes estâncias hidrominerais do Circuito das Águas e a cultura latente de Paraty.

• Caminho Novo: O Caminho Novo é o mais jovem da Estrada Real. Sua criação começou a ser definida em 1698, mas foi entre 1722 e 1725 que a rota estava finalmente definida. Repleto de atrativos turísticos, ele guarda dezenas de vestígios da época mineradora, um verdadeiro convite para o viajante. Aberto para ser alternativa mais rápida e fácil ao Caminho Velho, o Caminho Novo guarda para os turistas uma série de elementos da época das bandeiras e das primeiras explorações do território. São túneis, chafarizes e fazendas, hoje transformadas em confortáveis meios de hospedagem, que resgatam construções e costumes dos séculos 18 e 19.

• Caminho dos Diamantes: O Caminho dos Diamantes passou a ter grande importância a partir de 1729, quando as pedras preciosas de Diamantina ganharam destaque nas economias brasileira e portuguesa. Além da história de seus municípios, da cultura latente e da gastronomia típica, o Caminho dos Diamantes destaca-se pela beleza natural.

Atrativos que somam aventura, natureza, história e cultura dão o tom das viagens pelo Caminho dos Diamantes da Estrada Real.

• Caminho do Sabarabuçu: Há cerca de trezentos anos, as serras íngremes do trecho, cortadas por cursos d’água como o rio das Velhas, eram vistas como verdadeiros tesouros, onde seria possível achar ouro e outras pedras preciosas. Essa crença se devia ao brilho que a atual Serra da Piedade (antigo Pico de Sabarabuçu) tem. O que os bandeirantes imaginavam ser ouro é, na verdade, o minério de ferro do topo da montanha, que reflete a luz do sol. Para chegar até a serra que reluzia, esses viajantes buscaram uma rota alternativa entre Ouro Preto, no Caminho Velho,

Foto: shutterstock-Rafaela Asprino

e Barão de Cocais, no Caminho dos Diamantes.

Foi aí que surgiu o Caminho de Sabarabuçu. O caminho segue margeando o rio das Velhas e tem a Serra da Piedade, do alto dos seus 1.762 metros, como um dos atrativos. Além da mítica história da serra que reluz, ela servia também como referência de localização para a chegada às minas a partir de Raposos, Sabará e Caeté.

• Museu do Ouro: O Museu está instalado no prédio onde em 1731 funcionou a Casa de Fundição e a Casa da Intendência. Nessa casa, o minerador deixava o pagamento do famoso imposto do “quinto do ouro”. O Museu tem, em seu acervo, mobiliário, imaginárias e importantes peças referentes à atividade mineradora.

• Maria Fumaça: Inaugurado em 1881 por Dom Pedro II, o trem liga as cidades de Tiradentes e São João del Rei em trilhos de 76 cm (único do mundo) proporcionando um dos mais belos e encantadores passeios da região.

• Museu Imperial: O Museu Imperial funciona no antigo Palácio Imperial de Petrópolis, residência de verão de d. Pedro II e apontado pelo imperador em diários como um de seus locais preferidos.

O acervo, que conta com peças emblemáticas, como a famosa coroa do imperador, é distribuído por cômodos que reconstroem o cotidiano da família em Petrópolis e apresentam aspectos culturais, políticos, sociais e econômicos do Brasil no século XIX.

• Igreja N. Senhora do Bom Sucesso: Um dos belos exemplares do barroco, Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi a primeira igreja em alvenaria no

Foto: shutterstock-Sidney de Almeida

Brasil. Construída em 1757 pelo Frei Henrique Pereira. Tem planta de autoria de Manoel Francisco Lisboa.

• Teatro Municipal de Sabará: O teatro foi inaugurado em 1819 e é uma das mais antigas Casas de Ópera em funcionamento no Brasil. Ali estiveram os imperadores D. Pedro I (1831) e D. Pedro II (1881).

Possui uma das melhores acústicas de que se tem conhecimento. Em suas linhas arquitetônicas, a influência dos teatros ingleses da época de Elizabeth I, razão de sua denominação popular: Teatro Elizabetano.

• Casa de Tiradentes: A Fazenda Carreiras, localizada às margens da antiga Estrada Real, no município de Ouro Branco, guarda uma curiosidade: é conhecida como Fazenda Tiradentes ou Casa Velha de Tiradentes, pois acredita-se que o Inconfidente teria pernoitado ali durante uma viagem de São João del-Rei à Vila Rica, em 1788.

• Palácio de Cristal: Local inaugurado em 1884, a estrutura pré-montada foi encomendada pelo Conde d’Eu e inspirado no Palácio de Cristal de Londres, e do Palácio de Cristal do Porto.

Em 1957 o palácio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Inicialmente foi construído para abrigar de exposições agrícolas e hoje como local para exposições e eventos.

Foto: shutterstock-Uj studio

• Obras de Aleijadinho: Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido pela Unesco desde 1985, a cidade abriga o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. A fama não se deve apenas à questão religiosa, mas também por guardar um dos maiores patrimônios artísticos do Brasil: as esplêndidas obras executadas pelo mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

São 78 esculturas em tamanho natural, dentre elas 12 profetas confeccionados em pedra-sabão. As outras, em cedro, formam e representam os Passos da Paixão de Cristo. O conjunto de imagens é tão monumental que foi considerado pelo francês Germain Bazin, estudioso do barroco mineiro, um dos mais belos da Terra.

Ele foi ainda mais longe: acreditava ser “a última aparição de Deus evocada pela mão do homem. “E tudo isso no coração de Minas Gerais, distante milhares de quilômetros dos grandes centros europeus formadores da sociedade ocidental.”

Fonte: www.institutoestradareal.com.br & Márcio Santos, Pesquisador de rotas históricas, www.descubraminas.com.br/estradareal

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