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O Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil obteve maioria para condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro, com três dos cinco ministros da comissão votando para considerá-lo culpado de tentativa de golpe para permanecer no poder após a derrota nas eleições de 2022.

O veredito é histórico: marca a primeira vez que um ex-chefe de Estado brasileiro foi a julgamento por tentativa de derrubar o governo.

O líder de direita de 70 anos, que governou o Brasil de 2019 a 2022, e sete supostos conspiradores enfrentaram acusações que vão desde conspiração para golpe, tentativa de derrubar a ordem democrática brasileira e participação em grupo criminoso armado.

O voto de culpa da ministra Cármen Lúcia na quinta-feira garantiu a maioria necessária para condenar Bolsonaro.

Bolsonaro, que está em prisão domiciliar desde agosto, também enfrenta acusações adicionais relacionadas aos tumultos em Brasília em 8 de janeiro de 2023. Naquele dia, apoiadores de Bolsonaro invadiram prédios do governo após sua derrota nas eleições de 2022 para o líder de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, causando danos materiais e destruindo itens históricos.

O processo deve continuar até sexta-feira, quando o voto final será dado e a sentença anunciada. Mas com a maioria já garantida, Bolsonaro e seus co-réus — incluindo três ex-generais e o ex-chefe da Marinha — estão a caminho da condenação e podem pegar até 40 anos de prisão.

O juiz que lidera o caso, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, proferiu seu veredicto de culpado primeiro, com quase cinco horas de provas e argumentos na terça-feira. Moraes, há muito visto como um inimigo de Bolsonaro, era amplamente esperado para condená-lo — e não se conteve em sua decisão. Os aliados de Bolsonaro consideram a condução do julgamento e a repressão mais ampla à desinformação no Brasil por Moraes como severas. Em resposta, o governo Trump impôs sanções a Moraes, retirou seu visto americano e impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.

Moraes acusou Bolsonaro de orquestrar esforços para minar a democracia, chamando-o repetidamente de “líder de uma organização criminosa”. Ele disse que Bolsonaro começou a preparar o terreno para um golpe em 2021, disseminando desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro e incentivando ações que levaram aos protestos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.

“Isso não foi redigido em segredo por terroristas”, disse Moraes. “Foi escrito na sede do governo brasileiro, enquanto Bolsonaro estava no cargo.”

Enquanto Moraes e outros dois ministros pressionavam pela condenação do ex-presidente em todas as acusações, na quarta-feira o ministro Luiz Fux pressionou por sua absolvição das cinco acusações. Ele levou 13 horas para ler sua divergência e disse que o caso deveria ser apreciado pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), composto por 11 membros, argumentos que poderiam ser usados ​​pela defesa de Bolsonaro para apelar de um veredito final.

Bolsonaro negou consistentemente as acusações. Seu advogado, Celso Villardi, argumentou que não há provas que o liguem a um plano de golpe. Uma sessão final para debater a sentença será realizada na sexta-feira. Os advogados do ex-presidente disseram que ele recorrerá do veredito de culpado. Os outros réus também negaram as acusações.

O caso prejudicou severamente as relações do Brasil com os EUA. Forte aliado de Bolsonaro, Trump chamou o julgamento de “caça às bruxas” quando seu governo impôs a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros em agosto.

Questionada na terça-feira sobre possíveis novas sanções, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que “não há ações adicionais a serem previstas”, mas enfatizou que a questão continua sendo uma prioridade para o governo.

“Este presidente não tem medo de usar o poderio econômico e militar dos Estados Unidos para proteger a liberdade de expressão em todo o mundo”, disse Leavitt.

Ex-capitão do Exército, Bolsonaro tornou-se o primeiro presidente de direita do Brasil desde o fim da ditadura militar em 1985. Sua rápida ascensão de deputado federal a presidente em 2019 foi tão rápida quanto brutal — sobrevivendo a uma tentativa de assassinato em 2018.

Bolsonaro construiu uma base de apoio ferozmente leal como uma figura profundamente controversa, particularmente durante sua gestão da pandemia de COVID-19.

Apelidado de “Trump dos Trópicos”, Bolsonaro defendeu o direito ao porte de armas, os valores familiares tradicionais e outros, enquanto utilizava as mídias sociais com bravata sem filtros.

Desde que deixou o cargo, ele enfrentou diversos desafios legais, incluindo abuso de poder e falsificação de registros de vacinação contra a COVID-19. Em 2023, ele foi impedido de exercer cargos públicos até 2030 por disseminar desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro.

Mesmo assim, ele continua sendo uma força poderosa: obteve 49% dos votos em 2022 e ainda atrai milhões de pessoas às ruas em sua defesa.

Com Bolsonaro afastado, seus aliados agora disputam sua cadeira antes das eleições do próximo ano, apostando que sua influência continuará a moldar o futuro político do Brasil.

Fonte: npr.org por Júlia Dias Carneiro

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