Os reflexos causados pelo número crescente de satélites em órbita da Terra podem comprometer mais de 95% das imagens capturadas por alguns telescópios espaciais na próxima década, de acordo com um estudo liderado pela NASA.
A luz refletida aparece como rastros, chamados de trilhas de satélite. Esse fenômeno já foi observado em imagens capturadas pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA. A situação só tende a piorar com o acúmulo de mais satélites em órbita, segundo os pesquisadores.
O estudo, publicado na revista Nature na quarta-feira, prevê que outros telescópios também poderão apresentar imagens com rastros de satélites, incluindo o SPHEREx da NASA, o ARRAKIHS da Agência Espacial Europeia e o Telescópio Espacial Xuntian da China. O SPHEREx foi lançado este ano, enquanto o ARRAKIHS e o Xuntian ainda não foram lançados.
Uma imagem valiosa poderia ser obtida, por exemplo, “ao observar uma galáxia e, de repente, uma estrela muito distante explode”, diz Alejandro S. Borlaff, autor principal do estudo e cientista da NASA. Mas “se um satélite estiver cruzando o campo de visão, essa informação será perdida para sempre”, disse ele à Nature em uma entrevista para podcast.
O problema se agravou nos últimos anos: mais satélites foram lançados nos últimos quatro anos “do que nos 70 anos anteriores de voos espaciais combinados”, afirmou Borlaff.
Mais de 10.000 satélites ativos estão em órbita em 1º de dezembro, de acordo com dados de Jonathan McDowell, astrofísico do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica. A maioria deles pertence à SpaceX — a empresa possui mais de 7.800 satélites Starlink em órbita.
A União Internacional de Telecomunicações (UIT), que supervisiona as solicitações de satélites propostos no espaço, afirma que há “milhares de outros satélites” planejados para serem lançados em órbita.
Entre 2018 e 2021, quando havia menos satélites em órbita, cerca de 4% das imagens do Telescópio Espacial Hubble apresentavam rastros de luz de satélites, de acordo com outro estudo publicado na Nature Astronomy em 2023.
Mas Borlaff e outros preveem que esse número pode aumentar, com pelo menos uma em cada três imagens capturadas pelo Telescópio Espacial Hubble apresentando um rastro de luz. “Esse é um número impressionante. É realmente muito alto em comparação com o que vemos atualmente”, disse Borlaff ao podcast da Nature. “No caso dos telescópios SPHEREx, ARRAKIHS e Xuntian, esperamos que cerca de 96% das imagens sejam contaminadas de alguma forma.”
O estudo de Borlaff e outros mostra que o aumento de satélites também pode impactar as imagens capturadas por telescópios terrestres.
A comunidade científica e os astrônomos estão preocupados há muito tempo com as trilhas de satélites que afetam as imagens.
A Sociedade Astronômica Americana (AAS) alertou que o aumento de satélites na órbita baixa da Terra pode causar colisões com telescópios espaciais e criar brilhos e rastros de luz em imagens telescópicas.
“Continuaremos a facilitar o trabalho colaborativo com agências federais e a indústria de satélites para compreender e minimizar completamente os impactos de grandes constelações de satélites na astronomia”, disse Roohi Dalal, vice-diretora de políticas públicas da AAS, à NPR em um comunicado no domingo.
A NPR entrou em contato com a SpaceX para comentar o assunto no sábado, mas não recebeu resposta. A SpaceX já havia afirmado estar tomando medidas para reduzir a luz emitida por seus satélites, incluindo testes com revestimentos mais escuros, adição de visores para bloquear a luz solar e ajuste de suas órbitas para que reflitam menos luz solar.
A União Internacional de Telecomunicações (UIT) também expressou preocupação com o rápido aumento de satélites no espaço. Em um relatório recente, a agência da ONU afirmou que isso “representa riscos significativos para a sustentabilidade espacial, incluindo colisões e geração de detritos, ameaçando a viabilidade a longo prazo dos recursos orbitais”. A UIT defendeu regras internacionais mais rigorosas sobre o número de satélites no espaço e uma melhor gestão das redes de satélites.
Fonte: npr.org por Chandelis Duster
