Corpus Christi, também chamada de Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, Corpus Domini (expressão latina que significa Corpo de Cristo ou Corpo do Senhor), é uma comemoração litúrgica das igrejas Católica Apostólica Romana e Anglicana (esta última, até 1548) que ocorre na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É uma Festa de Guarda, em que a participação da Santa Missa é obrigatória, na forma estabelecida pela conferência episcopal do país

respectivo.
Para os católicos apostólicos romanos, a procissão pelas vias públicas atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (cânone 944), que determina ao bispo diocesano que a providencie “para testemunhar publicamente a adoração e a veneração para com a Santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo”.
História
A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo nasceu em 1247 na diocese de Liège, na Bélgica, para celebrar a presença real de Cristo na Eucaristia em reação às teses de Berengar de Tours, segundo o qual a presença de Cristo não era real, mas apenas simbólica.
O Papa Urbano IV, na época o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège, na Bélgica, teria recebido o segredo da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, que alegava ter tido visões de
Cristo demonstrando desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque. Por volta de 1264, em Bolsena, cidade próxima a Orvieto (onde o já então Papa Urbano IV tinha sua corte), teria ocorrido o episódio chamado de Milagre de Bolsena, em que um sacerdote celebrante da Santa Missa, no momento de partir a Sagrada Hóstia, teria visto sair dela sangue, que empapou o corporal (pano onde se apoiam o cálice e a patena durante a Missa). O papa determinou que os objetos milagrosos fossem trazidos para Orvieto em grande procissão em 19 de junho de 1264, sendo recebidos solenemente por Sua Santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a

primeira procissão do Corporal Eucarístico de que se tem notícia. A festa de Corpus Christi foi oficialmente instituída por Urbano IV com a publicação da bula Transiturus em 8 de setembro de 1264, para ser celebrada na quinta-feira depois da oitava de Pentecostes.
Para um maior esplendor da solenidade, desejava Urbano IV um Ofício para ser cantado durante a celebração. O Ofício escolhido foi composto por São Tomás de Aquino, cujo título era Lauda Sion (Louva Sião). Este cântico permanece até a atualidade nas celebrações de Corpus Christi.
O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o papa morreu em seguida, menos de um mês depois da publicação da bula Transiturus. Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colônia, na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada desde antes de 1270. A procissão surgiu em Colônia e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois na França e na Itália. Em Roma, é encontrada desde 1350.
A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia. Segundo Santo Agostinho, é um memorial de imenso benefício para os fiéis, deixado nas formas visíveis do pão e do vinho.
Corpus Christi é celebrado 60 dias após a Páscoa, podendo cair, assim, entre as datas de 21 de maio e 24 de junho.
Tapetes de Corpus Christi
Os tapetes de Corpus Christi são uma tradição católica popular, que é comum em várias cidades do Brasil e Portugal, sendo confeccionados durante a celebração do dia de Corpus Christi. A prática, surgida em Portugal e posteriormente difundida no Brasil durante o período colonizatório consiste na confecção de representações de cenas bíblicas, objetos devocionais ou simples temas ornamentais sobre as ruas em que a procissão da Eucaristia passará, o de mais costume, são desenhos que fazem alusão à figura de Cristo, do pão e do cálice.
No Brasil, a tradição é especialmente prevalente em cidades do Sudeste, sendo um componente importante da

cultura de cidades históricas, como Ouro Preto. Para sua confecção, grupos de paroquianos reúnem-se na noite anterior ao dia de Corpus Christi, tornando a prática um espaço de sociabilização entre os fiéis.
No Brasil
No Brasil, o Corpus Christi é ponto facultativo e pode ser feriado municipal.
Em muitas cidades portuguesas e brasileiras, é costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa, costume este, iniciado pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. Esta festividade de longa data se constitui uma tradição no Brasil, principalmente nas “cidades históricas”.
Em Pirenópolis, Goiás, a celebração de Corpus Christi é uma tradição pro fundamente enraizada remontando às primeiras décadas do século XVIII, com a fundação da Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz do Rosário. Até os dias atuais, essa irmandade desempenha um papel fundamental na organização das festividades junto a comunidade.
Ao longo dos séculos, a comunidade local tem se unido voluntariamente às celebrações, acrescentando a bela tradição dos tapetes à festa. Esses tapetes, elaborados com serragem colorida, areia, sementes e flores do cerrado, adornam as antigas ruas de pedra. A procissão tradicionalmente ocorre ao amanhecer, precedendo a Missa solene. Mesmo em circunstâncias excepcionais, como a pandemia de COVID-19 em 2020 e 2021, a tradição dos tapetes foi mantida, embora a procissão tradicional tenha sido suspensa.
Além disso, Corpus Christi marca o encerramento da Festa do Divino, sendo o último dia em que saem pelas ruas os mascarados que participam das cavalhadas e o dia em que o Imperador do Divino recebe a Coroa do Divino, iniciando seu reinado e preparando o terreno para a realização da Festa do Divino de Pirenópolis no ano seguinte.
Devido à sua profunda importância para a cultura local, em 2019, a celebração de Corpus Christi foi oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do município.
Em Curitiba, Paraná, é reconhecida atualmente por ter a maior celebração de Corpus Christi do mundo, o evento religioso faz parte do calendário oficial da cidade bem como do calendário oficial turístico do Estado do Paraná. São 2 quilômetros de tapete, confeccionados por mais de 4 mil voluntários.

Em Castelo, no estado do Espírito Santo, ruas são decoradas com enormes tapetes coloridos formados por flores, serragem colorida, grãos, mármore e granito, além de material reutilizado. Seus temas refletem pensamentos atuais, como a preservação do meio ambiente ou o abuso da mulher, muitas vezes com perguntas retóricas que levam o espectador a pensar e se questionar.
O município de Matão, em São Paulo, é famoso por seus tapetes coloridos feitos de vidro moído, dolomitas, serragem e flores que formam uma cruz que se estende por 12 quarteirões no centro da cidade onde passa a procissão da eucaristia.
A cidade de Mariana, em Minas Gerais, comemora a festa de Corpus Christi enfeitando as ruas com tapetes de serragem e pinturas. No município de Coronel Fabriciano, os fiéis realizam a montagem dos tapetes de serragem que marcam o percurso da procissão nas ruas da região central da cidade, saindo da Catedral de São Sebastião. Tal manifestação mantém rituais originados na década de 1940 pela Paróquia São Sebastião e foi tombada como patrimônio cultural da cidade.
As cidades paulistas de Jaguariúna, Monte Mor, Santo André, Santana de Par-naíba, São Joaquim da Barra, Igarapava, a mineira Uberaba, além da baiana Jacobina, também seguem o mesmo estilo, as ruas ao redor da matriz são enfeitadas com serragem, raspa de couro, areias coloridas – tudo o que a criatividade proporciona para este dia santo.
Em Caieiras, a juventude da cidade promove, com sua criatividade, tapetes que se estendem no trajeto da procissão deste solene dia, desde a Igreja Matriz de Santo Antônio até a Igreja de São Francisco de Assis, e é coroado com a procissão luminosa em torno ao Santíssimo Sacramento.
Em Porto Ferreira, a festa tem como finalidade a partilha, em comunhão com as três paróquias da cidade. Arrecadam-se alimentos que integram os enfeites nas ruas por onde o Santíssimo Sacramento passa e, após a solenidade, são doados a famílias que são assistidas por pastorais, como a Pastoral da Criança e Pastoral da Saúde.
Em Borborema, em São Paulo, as ruas são decoradas com enxovais, bordados e artesanatos, produzidos pelas mais de 50 lojas e fábricas da cidade. Após a procissão, tudo é vendido e a renda revertida ao Lar de Idosos São Sebastião.
Em Ibitinga (SP), fiéis da cidade preparam tapetes feitos de tecidos bordados. Eles são colocados no espaço de 10 quarteirões na região da Igreja Matriz, por onde passa a procissão. Todos os anos a população doa produtos, como roupas de cama, mesa e banho, que são bordados pe-las bordadeiras da cidade.
Em Vera Cruz (São Paulo), é tradição os tapetes de terra e serragem colori-da. Desde 1937 a paróquia Sagrado Coração de Jesus organiza a decoração que cobre as ruas do centro da ci-dade, sendo um dos maiores tapetes do gênero no país, com mais de 700 metros de percurso e chegando a 30 metros de largura em alguns trechos.
Em Cabo Frio (Rio de Janeiro), a principal avenida da cidade é decorada com tapetes feitos de sal, colorido com tintas especiais.
Em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, é confeccionado atualmente o maior conjunto de tapetes de sal da América Latina com 2 km de extensão.
Em Portugal
Neste dia, em todas as 20 dioceses de Portugal fazem-se solenes procissões a partir da igreja catedral, tal como em muitas outras localidades, que são muito concorridas. Estas procissões atingem o seu esplendor máximo em Braga, Porto e Lisboa.
Ordenada por Dom Dinis, a festa do Corpus Christi começou a ser celebrada em 1282, embora haja referências à sua comemoração desde os tempos de Dom Afonso III. Em Portugal, a festa era antigamente celebrada com danças, folias e procissões em que o sagrado e o profano se misturavam. Representantes de várias profissões, carros alegóricos, diabos, a serpe, a coca, gigantones, ao som de gaitas de foles e outros instrumentos, desfilavam pelas ruas. Das danças dos ofícios, em Penafiel, ainda se celebram o baile dos ferreiros, o baile dos pedreiros e o baile das floreiras. Esta celebração tem uma conotação muito forte no Minho, particularmente em Monção e em Ponte de Lima. Em Ponte de Lima, a tradição d’O Corpo de Deus perdura já há vários séculos.
Fonte: Wikipedia
Fotos: www.shutterstock.com
