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Minha convidada de hoje é a Josimara Ribeiro de Mendonça, 54 anos, natural de Ribeirão Preto, filha de Oswaldo Ribeiro de Mendonça (in memoriam) e de Therezinha Conceição Varalonga de Mendonça.

Josy – como é chamada pelos amigos – destaca que foram seus pais que lhe ensinaram, desde a infância, a importância da família, do trabalho, da solidariedade e do compromisso com o bem comum. “As raízes familiares foram fundamentais para moldar a trajetória que escolhi seguir: uma vida dedicada à educação, à cultura e ao desenvolvimento social”, afirma Josy. Seus irmãos, José Oswaldo Ribeiro de Mendonça (in memoriam) e Marcelo Ribeiro de Mendonça, continuam sendo uma presença importante em sua vida e nas decisões relacionadas aos projetos sociais.

Josy é mãe de três filhos, suas maiores inspirações e orgulho: Marcelo tem 29 anos, Felipe tem 24 anos e Mariana, 23 anos. “A maternidade fortaleceu em mim a convicção de que investir na educação e no desenvolvimento humano é a chave para garantir um futuro melhor para as novas gerações”, completa Josy.

Aryane Garcia – Durante a sua adolescência, em algum momento você imaginou estar na posição que se encontra hoje?

Josimara – Minha formação acadêmica reflete essa visão. Sou graduada em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, instituição que me forneceu base sólida em gestão e planejamento. Buscando compreender mais profundamente as dinâmicas humanas, concluí uma pós-graduação em Psicanálise e Inteligência Multifocal, que ampliou minha percepção sobre as relações interpessoais e o impacto emocional nos processos de transformação social. Além disso, especializei-me em Responsabilidade Social, área que une minha experiência em gestão à vocação de trabalhar pelo desenvolvimento das comunidades.

Após minha formação e experiências profissionais fora de Orlândia, decidi retornar à região onde cresci, movida pelo desejo de retribuir à comunidade tudo o que recebi. Voltei trazendo novos conhecimentos técnicos e uma visão renovada sobre o papel que poderia desempenhar no desenvolvimento social e cultural da região.

Encontrei no Grupo Colorado, empresa com fortes raízes na região, um espaço fértil para transformar essas ideias em ações práticas. Embora o Grupo já desenvolvesse iniciativas sociais, percebi a necessidade de estruturar e profissionalizar essas ações, tornando-as mais estratégicas e eficazes, capazes de oferecer não apenas auxílio imediato, mas ferramentas para a transformação a longo prazo.

Com esse objetivo, criei o Departamento de Responsabilidade Social do Grupo Colorado. A mudança principal foi substituir o modelo assistencialista, baseado em doações pontuais, por projetos estruturados de desenvolvimento humano e capacitação pessoal. Essa abordagem ajudou a fortalecer a dignidade das famílias beneficiadas e proporcionou oportunidades reais de crescimento e inclusão social.

O trabalho realizado mostrou que a responsabilidade social corporativa pode ser um agente de transformação efetiva, capaz de promover o progresso das comunidades enquanto reforça os laços entre a empresa e a sociedade.

Inspirada pelos resultados alcançados no Grupo Colorado e pela vontade de ampliar o alcance dessas iniciativas, fundei o Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça (ORM). O Instituto nasceu com a missão de levar educação e cultura para as comunidades das regiões onde o Grupo Colorado atua, com foco especial em crianças e adolescentes, pois acredito que o futuro de uma sociedade mais justa começa com oportunidades para as novas gerações.

O nome do Instituto é uma homenagem ao meu pai, Oswaldo Ribeiro de Mendonça, cuja vida foi marcada por contribuições valiosas para o desenvolvimento econômico e social da nossa região. Dar ao Instituto o nome de meu pai é uma forma de honrar sua memória, perpetuar seus valores e reconhecer seu legado de compromisso com o crescimento coletivo.

Desde sua fundação, o Instituto ORM tornou-se um referencial de transformação comunitária, oferecendo cursos, oficinas, atividades culturais e programas educacionais que ampliam horizontes, despertam talentos e fortalecem a autoestima de crianças, jovens e famílias.

Acredito firmemente que a educação é o maior legado que podemos deixar para as futuras gerações. Ela transforma vidas, promove dignidade e constrói caminhos para um futuro mais próspero.

Hoje, ao olhar para minha trajetória — como filha de pais que me ensinaram valores sólidos, irmã que aprendeu a partilhar, mãe que encontrou nos filhos inspiração para seguir lutando, e profissional dedicada à transformação social — sinto orgulho do caminho percorrido. Cada projeto realizado, cada vida impactada e cada comunidade fortalecida reforçam minha certeza de que a verdadeira mudança acontece quando unimos empatia, conhecimento e ação em prol do próximo.

Meu compromisso é seguir ampliando o alcance do Instituto ORM e das iniciativas sociais que lidero, garantindo que cada vez mais pessoas tenham acesso à educação, cultura e oportunidades capazes de transformar suas realidades.

Essa é a história de uma mulher profundamente conectada às suas raízes familiares, aos valores herdados de seus pais e à crença inabalável de que o investimento no ser humano é a chave para o desenvolvimento coletivo e sustentável da sociedade.

AG – Ainda na sua infância, você era influenciado por quais artistas que hoje perderam a referência com a revolução digital e advento da internet?

Josimara – Na minha infância, as opções de entretenimento eram bem diferentes do que temos hoje com as redes sociais. Eu fui profundamente influenciada pelo autor Monteiro Lobato, e não perdia quase nenhum episódio do Sítio do Picapau Amarelo, que alimentava minha imaginação. Além disso, as histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, criadas pelo Maurício de Sousa, também foram uma grande referência. Esses artistas marcaram a minha infância, mas com a revolução digital e a internet, muitos desses formatos perderam um pouco da centralidade que tinham, e as novas gerações hoje têm outras referências. Mas para mim, essas influências foram fundamentais e ajudaram a moldar meu olhar para o mundo.

AG – Após anos de aprendizado, tornar-se uma profissional reconhecida na sua área lhe traz facilidades laborais para opinar em outras áreas/empresas do segmento?

Josimara – Quando eu me especializei em responsabilidade social, o tema ainda não tinha a relevância que vemos hoje no Brasil. Com o passar dos anos, surgiu o conceito de sustentabilidade, também conhecido como triple bottom line, que defende que para uma empresa prosperar, ela precisa se sustentar em três pilares: ser ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável. Hoje, esse conceito foi ampliado para o ESG, que também abrange a governança corporativa. Para uma empresa ser reconhecida hoje, é fundamental que a responsabilidade social esteja totalmente integrada à gestão. E essas competências são fundamentais, porque elas facilitam o trabalho em todas as áreas e segmentos e ajudam a reduzir riscos futuros, trazendo uma visão mais perene e estratégica para o negócio.

AG – Entre os seus hábitos produtivos durante a semana, existem preceitos adaptados por você que foram inseridos na sua rotina e que hoje você os aconselha para seus demais colaboradores e colegas mais jovens de trabalho?

Josimara – Sempre valorizei a rotina e o planejamento. Acredito que ter uma agenda organizada é o primeiro passo para uma vida profissional equilibrada e produtiva. Costumo reservar dois dias da semana para reuniões presenciais ou virtuais e, nos demais, concentro-me no escritório, dividindo o tempo entre planejamento, atendimentos, comunicações e atividades administrativas.

Acredito que minha principal característica é estar inteira em tudo o que faço. Procuro manter o foco e evitar a procrastinação, porque entendo que a constância é o que sustenta bons resultados a longo prazo.

A produtividade não está em fazer mais, mas em fazer bem e com propósito.

AG – Qual o seu panorama sobre a situação econômica do Brasil nos últimos 20, 10 e 5 anos?

Josimara – Olhando o panorama econômico do Brasil, especialmente nas últimas duas décadas, o que vemos é uma montanha-russa, mas com um vetor de crescimento muito claro do setor que representamos.

Nos confrontamos com uma forte crise fiscal e política. Vimos a economia estagnar, enfrentamos recessões profundas e, principalmente, uma perda de confiança que impactou os investimentos. O desafio foi manter a produtividade e a eficiência em um ambiente de grande incerteza.

Os últimos dez anos foram definidos pela resiliência. Superamos a crise fiscal, enfrentamos a pandemia de Covid-19, que paralisou o mundo, e, mais recentemente, vimos a pressão inflacionária global. Apesar de tudo isso, o agronegócio brasileiro — e o setor sucroenergético, em particular — foi o grande motor que manteve a economia de pé. Fomos nós que garantimos o abastecimento interno e a balança comercial, investindo em tecnologia, bioenergia e sustentabilidade mesmo com juros altos e crédito restrito.

Para o Grupo Colorado, isso se traduz em investimento em inovação e na nossa missão social, que é o nosso diferencial competitivo. Estamos mais fortes, mais focados e com a certeza de que a sustentabilidade não é uma escolha, mas a única forma de garantir a perenidade do nosso negócio e o desenvolvimento do nosso País. O futuro exige de todos os brasileiros melhores escolhas nas urnas, disciplina e integridade.

AG – Das mais diversas dificuldades e oportunidades que você encontrou no decorrer da sua carreira, fazer parte do agronegócio, o setor mais lucrativo no Brasil, lhe ajuda a entender a situação social do país? Quais são seus planos para colaborar com a inclusão dos jovens e mais mulheres no setor?

Josimara – Essa pergunta é muito pertinente. Fazer parte do agronegócio, que é um motor vital e lucrativo para a economia, me ajuda a entender a situação social do país, e me dá uma perspectiva de responsabilidade e de escala que é única.

Os bons resultados do agronegócio são a ferramenta que impulsiona o desenvolvimento social. O setor opera em regiões onde, muitas vezes, o poder público tem dificuldade de chegar. Quando você produz riqueza no campo, você tem o dever de garantir que essa riqueza circule, gere qualidade de vida e, principalmente, oportunidades também nas cidades. E é isso que fazemos.

Para mim, a situação social do Brasil é clara: temos uma imensa necessidade de inclusão produtiva. Falta qualificação, falta acesso e falta a ponte entre o talento e o emprego formal.

Nossos planos no Grupo Colorado são muito objetivos e estão baseados em capacitação e quebra de barreiras culturais, especialmente em um setor historicamente masculino.

Por meio do Programa de Preparação para o Mundo do Trabalho, em parceria com o Sistema S, preparamos jovens para o mundo do trabalho, investindo na formação técnica e profissional, dando a eles, também a oportunidade do primeiro emprego. Eles já chegam ao mercado com um mindset de valor.

Em relação às mulheres, a barreira é estrutural. Nosso plano é focado na vivência operacional. Não ficamos apenas na teoria. Iniciamos um movimento forte de inclusão em funções operacionais que eram 100% masculinas.

O segredo está no investimento igualitário e rigoroso em treinamento. Nossas colaboradoras passam por programas de capacitação como o nosso para condutores, garantindo a excelência técnica.

AG – A sua participação diária e ativa com as estatísticas econômicas do Agro lhe entregam uma variedade de oportunidades de crescimento. Na sua opinião, como o Agronegócio permanecerá em alta nos próximos anos – de acordo com o seu ramo de atuação?

Josimara – As perspectivas para o setor sucroenergético nos próximos anos são excepcionais. Nós teremos o crescimento impulsionado pela demanda por biocombustíveis, apesar dos desafios que enfrentamos, como a falta de água – estresse hídrico, o impacto do clima na produção de cana, aumento de custos e menor qualidade da matéria-prima. Nosso desafio é a inovação, a Colorado acaba de lançar a Colorado Ventures parta estimular novas tecnologias. E claro, teremos que seguir sendo eficientes.

Agronegócio é, e continuará sendo, o motor do Brasil e um dos protagonistas globais por três motivos fundamentais. O mundo exige soluções para o clima e por isso precisa de nossa energia limpa e renovável: o etanol. Nosso etanol reduz a emissão de dióxido de carbono em até 90%, se comparado à gasolina e outros combustíveis fósseis. A Usina Colorado ainda contribui gerando energia elétrica a partir da biomassa, que move nossas plantas e exporta o excedente para o Sistema Elétrico Nacional. A economia de baixo carbono não é uma moda; é uma necessidade.

O Agronegócio vive a era do Machine Learning e da Inteligência Artificial (IA). Estamos investindo em tecnologias de ponta para otimizar processos, aumentar a precisão analítica e garantir a sustentabilidade. Isso significa que vamos aumentar a produtividade da cana-de-açúcar por hectare sem precisar expandir a área cultivada. É crescimento com inteligência e responsabilidade.

AG – De acordo com a sua experiência, em níveis globais, o Agro enfrenta desafios para comunicar com o mundo a sua importância no impacto de toda a cadeia produtiva?

Josimara – Sim, sem dúvida. Um dos principais obstáculos foi artificialmente fabricado e  incluei a percepção negativa associada à palavra “agronegócio”, a necessidade de desmistificar questões ambientais e a falta de uma comunicação estratégica. Setores da sociedade insistem em não enxergar toda a amplitude do setor e sua conexão com a vida nas cidades. A percepção do público muitas vezes não reflete a complexidade, a tecnologia e a sustentabilidade empregadas no setor, além de não destacar o trabalho e a resiliência dos produtores. O agro é frequentemente associado a desmatamento e impacto ambiental, gerando críticas e barreiras comerciais, como as impostas por países europeus, que utilizam critérios ambientais para proteção de seus mercados.

Há uma necessidade de investir em planejamento e estratégias contínuas que envolvam a construção de relacionamentos com os públicos, ao invés de focar apenas em campanhas pontuais.

As pessoas dependem do agro para se alimentar, para viver, para trabalhar. Nossa tarefa é a de criar conexão e pertencimento com a sociedade através de diálogo e atitude colaborativa.

AG – Como convencer a sociedade de que o Agro não é o principal responsável pelo aquecimento global? Qual a notícia ou manchete que deve ser desmentida por ter prejudicado falsamente o setor?

Josimara – Não é uma questão de convencer, mas de educar a sociedade com dados irrefutáveis.

O Agronegócio brasileiro não é o principal responsável pelo aquecimento global; ele é, de fato, um protagonista na solução. O nosso setor, e o sucroenergético em particular, é o único no mundo que produz combustível de forma limpa e renovável. Além disso, gera bioeletricidade a partir da biomassa da cana, energia que move nossas plantas e exporta o excedente para a rede nacional. O Brasil é o único país a gerar energia limpa em larga escala. As práticas de sustentabilidade e economia circular são modelos globais. Utilizamos tecnologias como a aplicação dirigida de vinhaça, que devolve nutrientes ao solo, reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos. E internamente, investimos em tecnologia e IA para otimizar o uso da água e reduzir o impacto ambiental, como a telemetria que otimiza o consumo de diesel em nossa frota.

A notícia mais prejudicial que precisamos desmentir é a que liga falsamente a produção de alimentos e energia à destruição ambiental. A manchete que mais nos prejudica é a que insiste em focar na queimada e no desmatamento ilegal como se fossem práticas do agronegócio moderno. Essa manchete é falsa! O setor sucroenergético, por exemplo, antecipou-se à legislação e interrompeu o uso do fogo na colheita há anos. As usinas sucroenergéticas investem recursos humanos e materiais em prevenção e combate a incêndios porque o fogo destrói nossa matéria-prima, nossa produtividade e o meio ambiente. E essa sensibilização precisa ser iniciada desde cedo, nas escolas.

AG – A popularidade dos produtores rurais está em risco e quais seriam os motivos para a demonização da composição ruralista?

Josimara – A popularidade dos produtores rurais no Brasil não está totalmente em risco, mas sim em uma zona de alta polarização e vulnerabilidade. O setor é reconhecido pela sociedade como o motor econômico do país  e o que garante o abastecimento, mas essa percepção positiva convive com uma imagem negativa e desatualizada. Essa é uma questão que tem sido debatida intensamente dentro e fora do agronegócio. Como Diretora do Grupo Colorado, eu vejo essa situação como um risco de reputação, r como um desafio estratégico de comunicação para todo o setor.

O problema não é o que o Agro faz hoje, mas o que a sociedade acredita que ele faz, baseada em preconceitos e informações incorretas sob a lente do aquecimento global. O setor enfrenta a manchete que liga a produção à destruição, focando em práticas ilegais e antigas, como a queimada da palha. A sociedade urbana, muitas vezes, não diferencia o produtor moderno e sustentável da prática criminosa. É crucial desmentir que o fogo é benéfico, mostrando que a queimada prejudica a produtividade e que empresas como o Grupo Colorado anteciparam a legislação para eliminar o fogo na colheita.

Há um desconhecimento sobre como o Agro brasileiro é, na verdade, uma solução climática. Como dissemos, setor é o único a produzir etanol, um combustível com redução de emissão de CO2. A sociedade não enxerga o Agro como um setor de alta tecnologia. O Agro moderno está alinhado à eficiência, à produtividade e à segurança, mas a narrativa muitas vezes se resume à visão romântica ou, pior, primitiva do campo.

Há uma grande desconexão, pois os livros didáticos, que formam a opinião de gerações, contêm informações distorcidas sobre a produção rural. Estudo da Associação De Olho no Material Escolar demonstrou que conteúdos referentes ao Agro têm 60% mais citações negativas do que positivas. Isso pereniza uma imagem de “mau empregador” ou “inimigo do meio ambiente”.

A solução, na visão do Grupo Colorado, é a educação e a transparência. Programas como o “Educando para o Futuro”, uma iniciativa de Responsabilidade Social desenvolvida pela Usina há cerca de 30 anos com o objetivo de apresentar a escolares o compromisso do agronegócio com a produtividade, a eficiência e a sustentabilidade, o cuidado com o meio ambiente e com as pessoas. Pelo Programa, alunos da rede oficial de ensino têm a oportunidade única de conhecer o sistema de produção da cana, da lavoura à indústria, interagir com profissionais da empresa e participar de visitas guiadas. Muitos desses alunos têm pais, avós ou irmãos trabalhando na Usina e, ao retornarem para casa, compreendem melhor o papel estratégico do agronegócio para o desenvolvimento da cidade, da região e do país. Também participamos da Associação De Olho no Material Escolar, essencial para levar a verdade do Agro à próxima geração e garantir que a percepção pública acompanhe a excelência de nossa produção.

AG – Quais os maiores nomes do Agronegócio brasileiro que influenciaram a sua vida e quais os principais no mundo que lhe fizeram mudar a visão e dinâmica para desbravar o percurso?

Josimara – Entre tantos nomes pioneiros que pavimentaram a trajetória do agronegócio no Brasil e no mundo, com tanta paixão e trabalho, eu fico com o nome de meu pai, Oswaldo Ribeiro de Mendonça, também um pioneiro, responsável pela implantação da cana na região de Guaíra, um homem que enxergava oportunidades em locais inimagináveis. Foi o responsável por me guiar aos primeiros passos no Agro, com tanto afeto. É para ele a minha homenagem.

AG – O fio condutor do sucesso do agronegócio é a economia. Você acha possível que o Brasil diminua o poder de compra e passe por uma recessão econômica? Como o Brasil poderá se blindar de uma crise alimentar?

Josimara – O risco de crise econômica é real e está ligado à desconfiança no caminho que a política atual tem adotado. É urgente que o Governo confie na capacidade do produtor, garanta um ambiente de negócios estável e invista na infraestrutura que o Agro tanto necessita para continuar produzindo.

O atual cenário de elevada incerteza fiscal é um freio direto no investimento. Quando o governo sinaliza que pode gastar mais do que arrecada, o mercado reage elevando os juros e o risco-país. Isso impacta o custo do capital, freia a inovação e o investimento produtivo, que é o que gera emprego e riqueza de verdade. Uma vez que o investimento trava, a recessão se torna inevitável.

O poder de compra está sendo corroído pela inflação e pela política de crédito. Os custos de produção do agro sobem — seja pela instabilidade do dólar ou pelos custos internos — e isso é repassado ao consumidor. O brasileiro já sente no bolso a perda de poder de compra. A solução não está em medidas paliativas, mas em garantir uma política econômica séria e previsível.

Há uma grande contradição: o Brasil é uma potência alimentar, mas a má gestão pode nos expor à crise. A blindagem do País virá única e exclusivamente da valorização e do desinvestimento do governo no agronegócio. O Agro é o setor mais eficiente e resiliente do Brasil, e isso se dá, em grande parte, pela iniciativa privada e pela tecnologia. Para nos blindarmos de uma crise alimentar, o governo precisa reduzir a interferência e garantir a segurança jurídica, o que é fundamental para o setor planejar o futuro e fazer os investimentos necessários em tecnologia e produção.

AG – Se você pudesse criar algumas regras sociais que favoreçam a dinâmica produtiva do Agronegócio e do povo brasileiro, quais seriam as suas propostas de lei?

Josimara – Há muito para ser feito. Em linhas gerais, a visão do agronegócio para essa questão seria propor regras que simplifiquem a burocracia, ampliem o acesso a crédito rural, incentivassem a inovação tecnológica e a infraestrutura logística, e garantissem segurança jurídica para investimentos no campo. Outro bom caminho é facilitar o licenciamento e flexibilizar a legislação ambiental que barram a competitividade de nossos produtos.

AG – Das mais variadas atitudes que aceleram o crescimento do Brasil, qual a maior contribuição que essa geração poderá entregar que irá impactar os próximos 30 anos?

Josimara – Eu acredito que para o Brasil manter sua posição como líder no agronegócio mundial, precisa ir além do aumento da produção. A sustentabilidade e a eficiência tecnológica são fatores cada vez mais decisivos para a competitividade nos mercados internacionais. Há uma crescente demanda por produtos de origem sustentável, tanto por parte dos consumidores quanto por governos e investidores. A adoção dessas práticas garantirá que o agro continue a crescer de forma ética e responsável. Também é preciso respeitar o legado e trabalhar com afinco e paixão.

AG – Se você pudesse escolher uma cidade brasileira para viver até o último dia de sua vida, qual seria e por quê?

Josimara – Eu gosto muito de viver no interior de São Paulo. Acho importante estar perto das nossas empresas e dos negócios — isso faz diferença no dia a dia. Hoje moro em Orlândia, onde está a diretoria do Grupo Colorado, mas em breve pretendo me mudar para Ribeirão Preto.

É uma cidade que tem tudo: está perto dos negócios, tem ótima qualidade de vida e oferece muitas opções de lazer, cultura, esporte e gastronomia. Além disso, é onde mora meu marido, Dázio Vasconcelos — então é o lugar que une o trabalho e a vida pessoal de forma muito natural.

ARYANE GARCIA

By ARYANE GARCIA

Aryane Garcia, jornalista brasileira e fundadora da Agrotalk Meeting, uma das plataformas mais inovadoras do agronegócio no Brasil. Aryane construiu uma carreira sólida como comunicadora em veículos de imprensa como SBT Interior e Band Paulista, além de passagens internacionais por Chicago e Nova York. É especialista em estratégias de marketing em economias emergentes pela HarvardX e proprietária da AGX Estratégias de Comunicação, com centenas de eventos realizados desde 2007. Ela também ocupa o cargo de vice-presidente do Núcleo Jovem Jornalista na Associação Paulista de Imprensa e é membro da Associação Brasileira de Imprensa Internacional, com sede em Miami. Aryane aplica suas expertises para reposicionar o agro como um setor estratégico, moderno e conectado com os desafios do mundo contemporâneo.

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