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A autora carioca de livros infantis nos Estados Unidos, Ana Crespo, está lançando um projeto chamado Lia & Luís: Who Has More? Que ganhou o prêmio Mathical Book Prize, do Mathematical Sciences Research Institute (MSRI) na categoria PreK.

A história é sobre os gêmeos Lia e Luís, que tentam descobrir quem tem mais salgadinhos – Luís, com seu saco de biscoitos de polvilho, ou Lia, com duas coxinhas de galinha. O livro, ilustrado por Giovana Medeiros e publicado pela editora Charlesbridge, vem em formato hardcover e também no econômico formato paperback e está disponível através de qualquer livraria nos Estados Unidos, podendo ser encontrado também em bibliotecas.

Ana se mudou para os Estados Unidos com 23 anos, para fazer mestrado em Ohio. Ela conta que quando era criança, não gostava de ler. “Acho que parte da razão é que eu não tinha muita liberdade para escolher os livros. Eu associava os livros aos trabalhos de escola e, entre fazer trabalho de escola e ir à praia, eu preferia ir à praia. Então eu diria que a minha carreira de escritora começou quando eu finalmente me apaixonei pela leitura e isso aconteceu aqui nos Estados Unidos, no chão de uma biblioteca em Indiana, lendo para minha filha que tinha apenas um ano. Foi a partir daí que eu comecei a cogitar a possibilidade de escrever.

A ideia de divulgar a cultura brasileira veio quando Ana sentiu uma necessidade de achar livros em inglês com personagens brasileiros. Ela via muitos livros com personagens latinos, mas todos eles faziam referência à língua espanhola. Muito raramente encontrava um livro com alguma informação sobre o Brasil, e quando encontrava, normalmente o livro era sobre o Pelé.

Sete anos mais tarde, a escritora teve seu segundo filho, e resolveu começar a escrever. “Como nessa época tinha parado de trabalhar, resolvi escrever histórias. No começo, as ideias eram sempre ligadas à minha infância, por-tanto o tema das histórias eram sempre brasileiros. Porém, o meu livro mais recente, “Lia & Luís: Who has More?”, foi o primeiro baseado num tema determinado pela editora.

A Charlesbridge, em Massachusetts, estava procurando histórias com temas matemáticos bem específicos e com personagens de culturas diferentes, que não são representadas suficientemente na literatura infantil americana.

Sua inspiração foi uma pergunta que seus pais costumavam fazer: “O que pesa mais, um quilo de chumbo ou um quilo de algodão?” Ela substitui o chumbo por coxinhas de galinha e o algodão por biscoito de polvilho, criando uma história com um gostinho bem brasileiro, que leva crianças a compararem medidas diferentes enquanto tentam descobrir quem tem mais.

No entanto, o processo para se tornar uma escritora brasileira de sucesso nos EUA não é fácil. Ana conta que sua carreira foi lançada graças a uma sociedade nos EUA chamada Society for Children’s Book Writers and Illustrators que é a maior organização dedicada à educação e treinamento de pessoas interessadas em virarem escritoras e ilustradoras infantis, de livros para bebês até livros para adolescentes.

“Foi lá que conheci minha primeira editora, que leu o manuscrito do “The Sock Thief: a Soccer Story”. Nesses eventos, você tem a opção de ter o seu trabalho criticado por um profissional da área e, durante essa crítica, ela fez várias recomendações de como melhorar a história. Esse livro foi ilustrado por uma argentina chamada Nana Gonzalez e publicado pela Albert Whitman em 2015. Se eu não estivesse no lugar certo, na hora certa, talvez esse livro nunca tivesse sido publicado e minha carreira de escritora não tivesse sido lançada”, relata sua experiência.

Como não podemos deixar de tocar no assunto de crise de coronavírus, a escritora conta que neste seu último projeto a crise atrapalhou um pouco, porque os eventos programados para o lançamento tiveram que ser cancelados, como por exemplo conferências em escolas para crianças. Mas, por outro lado, essa nova realidade abriu algumas portas, como eventos onlines, atingindo um público maior, e também que ela se interagisse virtualmente com livrarias em locais com uma população de imigrantes brasileiros bem maior da onde vive. Outros livros da autora:

The Sock Thief: a Soccer Story (publicado pela Albert Whitman e ilustrado pela Nana Gonzalez): baseado nas histórias que seu pai lhe contava sobre a infância dele. Ele e seu tio roubavam meias finas da sua avó e enchiam as meias com jornal para fazer bolas de meia. Depois, eles usavam as bolas para jogar futebol de rua. Além de palavras em português, os animais desse livro também “falam” português. Quer dizer, os sons que eles fazem são os sons que atribuímos aos animais em português. Por exemplo, ao invés de latir “woof, woof,” o cachorro do livro late “au, au, au.”

Hello, Tree (publicado pela Little, Brown for Young Readers e ilustrado pela Dow Phumi Huck): o livro foi inspirado pelo incêndio florestal na Black Forest, no Colorado. O livro, narrado pelo ponto de vista de um pinheiro, conta a história da relação entre uma menina e o pinheiro, e o que acontece quando o fogo ameaça destruir essa “amizade.” O livro é uma declaração de amor à natureza.

VIVIANE FAVER
Jornalista
vfaver@gmail.com

VIVIANE FAVER

By VIVIANE FAVER

Jornalista radicada em NYC. Estagiou e trabalhou no Jornal do Commercio por 10 anos na editoria de economia. Mudou-se para NY em 2014, onde começou a colaborar para o jornal The Brasilians, o Extra, O Dia, CNN Style (Londres), New York Beacon, entre outros. Também trabalha com documentários, o mais recente foi o 'Queen of Lapa', que ganhou o prêmio no festival LGBT, NewFest, em NYC, em 2019.

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